O Mal
Enquanto esse cuspir vermelho da metralha
Silva no céu azul o dia inteiro, e logo,
Verdes ou rubros, junto ao Rei que os achincalha,
Tombam os batalhões em massa sob o fogo;
Enquanto a insânia horrenda arde num fogaréu
Cem mil homens e os deixa a fumegar, demente,
– Pobres mortos! na relva, ao sol do estio, em teu
Seio, Natura, ó tu que os criaste santamente! –
– Existe um Deus, que ri nas toalhas dos altares
Num cálice dourado, entre incensos, e nesse
Tranquilo acalentar de hossanas adormece;
E acorda quando as mães, morrendo de pesares,
Choram de angústia, sob o negro xaile imenso,
E lhe dão uma moeda, amarrada no lenço!
Arthur Rimbaud (1854-1891)
[Tradução de Ivo Barroso]
Fonte:
Logopeia. 4 poemas de guerra para tempos violentos (2022.06.10). Acedido em https://logopeia.com/4-poemas-para-os-tempos-de-guerra/
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