terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Sempre o amor...

Com a 'desculpa' de homenagear S. Valentim - bispo mártir no Império Romano - brindemos ao amor, porque o ser humano foi feito para amar, acima de qualquer coisa, como escreveu Carlos Drummond de Andrade.

Amar

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer, amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal,

senão rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cru,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e

uma ave de rapina.


Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor,

e na secura nossa amar a água implícita,

e o beijo tácito, e a sede infinita.

(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987)


O poema dito por Paulo Autran:

 

Feliz Dia dos Namorados!

Fonte:
Cultura genial. 12 poemas de amor de Carlos Drummond de Andrade. Acedido em  https://www.culturagenial.com/poemas-de-amor-de-carlos-drummond-de-andrade/

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