Aqui fica mais um belíssimo poema de António Gedeão intitulado Lágrima de preta.
O poema foi publicado em 1961, no livro Máquina de Fogo, e musicado por José Niza, e cantado por Adriano Correia de Oliveira, em 1970. Apesar de a canção ter sido proibida pela censura na altura, o poema permanece um dos mais magníficos hinos à igualdade, sem sinais de negro, nem vestígios de ódio. E é mais atual do que nunca...
Letra:
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
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