sábado, 27 de janeiro de 2024

Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto


No dia 27 de Janeiro, a UNESCO presta homenagem à memória das vítimas do Holocausto e reafirma o seu compromisso inabalável de combater o anti-semitismo, o racismo e outras formas de intolerância que podem levar à violência dirigida a grupos. A data marca o aniversário da libertação do Campo de Concentração e Extermínio Nazista de Auschwitz-Birkenau pelas tropas soviéticas, em 27 de janeiro de 1945. 

O Holocausto afectou profundamente os países onde foram perpetrados crimes nazis, com implicações e consequências universais em muitas outras partes do mundo. Hoje, porém, há cada vez menos testemunhas desse horror; A “era das testemunhas” – para usar a expressão da historiadora Annette Wieviorka – aproxima-se do seu crepúsculo, por isso, os Estados-Membros partilham a responsabilidade coletiva de abordar o trauma residual, de manter políticas de memória eficazes, de cuidar dos locais históricos e de promover a educação, a documentação e a investigação, de forma a reforçar ainda mais o nosso compromisso de transmitir esta memória do indizível, para que possamos legá-la às futuras gerações.

Esta responsabilidade implica educar sobre as causas, consequências e dinâmicas de tais crimes, de modo a fortalecer a resiliência dos jovens contra ideologias de ódio. À medida que os crimes de genocídio e atrocidades continuam a ocorrer em diversas regiões, e à medida que assistimos a um aumento global do antissemitismo e do discurso de ódio, isto nunca foi tão relevante.

"A recordação do Holocausto obriga-nos a enfrentar as cicatrizes do passado; ao mesmo tempo, obriga-nos também a respeitar os direitos humanos e a respeitar uma ordem internacional construída sobre o princípio fundamental de que existe dignidade em cada vida humana".

(Texto adaptado da mensagem da Sra. Audrey Azoulay,Directora Geral de la UNESCO, no Dia Internacional de Comemoração das Vítimas do Holocausto, 27 de janeiro de 2024) 

Fonte:

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Porquê ensinar sobre o Holocausto?

Título: porquê ensinar sobre o Holocausto?
Autor: UNESCO
Ano de publicação: 2019
N.º páginas: 24 p., il.

"A história do genocídio perpetrado durante a Segunda Guerra Mundial não pertence apenas ao passado. É uma 'história viva' que diz respeito a todos nós, independentemente da nossa origem, cultura ou religião. Ocorreram outros genocídios após o Holocausto em vários continentes. Como podemos retirar melhores lições do passado?” 
Irina Bokova, Diretor Geral da UNESCO 
27 de janeiro de 2012


“Quer viva na África Central, na China, no Pacífico Sul ou na Suíça, tem de estar ciente do perigo que o genocídio representa. Em última instância, educar sobre o Holocausto significa afastar a humanidade o mais longe possível dessa forma extrema de assassinato em massa". 
Yehuda Bauer, Historiador, UNESCO, 
31 Janeiro de 2012


"O século XX e o início do século XXI foram uma época de atos incomparáveis de genocídio e atrocidades em massa. Os Herero, os Arménios, o Holocausto e outros crimes Nazis, crimes Estalinistas, o Camboja, Timor Leste, Ruanda, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Darfur, República Democrática do Congo ... a lista continua.
(pág. 22)


O Holocausto foi um ponto de viragem na história da humanidade. Entender o genocídio do povo Judeu e outros crimes perpetrados pelo regime Nazi continua a ser de grande importância no mundo moderno. Independentemente de onde vivemos ou de quem somos, aprender sobre esta história universal pode ajudar a envolver os alunos numa reflexão crítica sobre as raízes do genocídio e sobre a necessidade de promover a paz e os direitos humanos para evitar tais atrocidades no futuro. Esta breve introdução proporciona uma visão geral e essencial relativamente à educação sobre o Holocausto, que pode apoiar tanto criadores de políticas, como educadores e estudantes na compreensão do genocídio e por que é vital continuar a ensinar sobre o Holocausto nos dias de hoje.
UNESCO


Clique na capa para aceder ao documento.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Exposição evocativa de Jean Monet | Convite



O Clube Europeu da Escola Secundária da Amadora convida a comunidade educativa a visitar a exposição evocativa de Jean Monnet, que se encontra no polivalente da escola, entre os dias 18 e 26 de janeiro.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Educação e pluralismo: um caminho | Ebook


Educação e pluralismo: um caminho resultou do trabalho que envolveu os Agrupamentos de Escolas Amadora Oeste, Cardoso Lopes e Dr. Azevedo Neves

"Esta produção resulta do encontro entre equipas de diferentes instituições ligadas à educação, visando construir um percurso formativo focado na capacitação de profissionais desta área, para melhor trabalharem com populações multiétnicas, a fim de criar as condições favoráveis a uma mais eficaz inclusão de todos. Foram aspetos centrais do percurso, o reforço da consciência, do conhecimento e das competências para trabalhar com crianças e jovens de descendência migrante.

Propõe-se que seja um guia de reflexão individual, que estimule o debate junto de grupos de trabalho, com adultos ou crianças, permitindo também, a adaptação de conteúdos e práticas relevantes para as comunidades educativas atuais, no seio de sociedades cada vez mais plurais.

Pretende-se assim, partilhar e divulgar linhas orientadoras para todos os que trabalham em contextos diversificados, que incluam ou não minorias, bem como para qualquer profissional que assuma a sociedade Portuguesa como multicultural, num mundo em constante mudança".

Introdução

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Inteligência artificial e pensamento crítico | Ebook


Título: Inteligência artificial e pensamento crítico : caminhos para a educação midiática
Autor: Alexandre Le Voci Sayad
Edição: 1.ª ed.
Publicação: S. Paulo: Instituto Palavra Aberta, 2023
N.º páginas: 160 p.

"A chegada e a popularização de ferramentas acessíveis de inteligência artificial generativa e todas as suas faces, expostas em protótipos de chatbots como o ChatGPT – que atingiu mais de 100 milhões de usuários nos primeiros dois meses após o lançamento, em novembro de 2022 – e o Bart do Google, só reforçam o fato desta obra chegar em boa hora. 

Nada mais atual como tratar esse tema sob a ótica da educação e da importância do desenvolvimento do pensamento crítico, a fim de que todos nós – estudantes, educadores e cidadãos – possamos aprender sobre IA e suas potencialidades, além dos riscos intrínsecos a qualquer evolução tecnológica. 

A própria discussão sobre o conceito de pensamento crítico já torna a leitura deste livro extremamente enriquecedora. O autor foi bastante perspicaz ao abordar questões éticas relativas ao desenvolvimento e uso da inteligência artificial, e ao alertar sobre a necessidade de aprofundar ainda mais o debate para garantir pluralidade, diversidade, equidade e respeito a todos os matizes que compõem a nossa sociedade. 

Num mundo cada vez mais conectado, no qual a IA faz parte da nossa vida coti-diana sem nos darmos conta de como isso ocorre, é crucial entendê-la: não só para fazer o melhor uso dela, mas principalmente para garantir a utilização correta e res-ponsável dessa tecnologia que veio para ficar. Por esse motivo, a educação midiática é fundamental se quisermos formar uma geração de cidadãos autônomos, indepen-dentes e que possam se beneficiar de todo o potencial da IA".

Patrícia Blanco. Apresentação

Clique na imagem para aceder ao ebook.




segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

À conversa com … a escritora Dulce Maria Cardoso na BMFPS


A escritora Dulce Maria Cardoso é a próxima convidada da iniciativa À Conversa com …, que terá lugar no Auditório Rogério Rodrigues da Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, no dia 18 de janeiro (quinta-feira), pelas 18h30.

Com a moderação de Maria João Costa.

Destinatários: Público em geral.

Participação gratuita. 

Não é necessária inscrição prévia.

Sobre | Dulce Maria Cardoso

Dulce Maria Cardoso publicou os romances Eliete (2018, livro do ano, entre outros, no Público, Expresso e no JL, Prémio Oceanos e finalista do Prémio Femina), O Retorno (2011, Prémio Especial da Crítica e livro do ano dos jornais Público e Expresso), O Chão dos Pardais (2009, Prémio PEN Clube Português e Prémio Ciranda), Os Meus Sentimentos (2005, Prémio da União Europeia para a Literatura) e Campo de Sangue (2001, Prémio Acontece, escrito na sequência de uma Bolsa de Criação Literária atribuída pelo Ministério da Cultura).

Os seus romances estão traduzidos em várias línguas e publicados em mais de duas dezenas de países. A tradução inglesa de O Retorno recebeu, em 2016, o PEN Translates Award. Publicou contos em revistas e jornais, a maioria dos quais reunida nas antologias Até Nós (2008) e Tudo São Histórias de Amor (2013). Alguns deles fazem parte de várias antologias estrangeiras, e «Anjos por dentro» foi incluído na antologia Best European Fiction 2012, da Dalkey Archive. Em 2017, foram publicados os textos Rosas, escritos no âmbito da estada em Lisboa de Anne Teresa De Keersmaeker, quando a coreógrafa foi a Artista na Cidade. Criou, ainda, a personagem Lôá, a menina-Deus, para uma série da RTP2. A obra de Dulce Maria Cardoso é estudada em universidades de vários países, fazendo parte de programas curriculares, e tem sido objecto de várias teses académicas, bem como adaptada a cinema, teatro e televisão. A autora tem participado em vários festivais de prestígio internacional. Em 2012, recebeu do Estado francês a condecoração de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras. Assina, na Visão, a coluna «Autobiografia não autorizada» (crónicas publicadas em livro, em 2021) e é comentadora na estação televisiva SIC, no programa Original é a Cultura.

Fonte:
Câmara Municipal da Amadora. Acedido em 13.01.2024 em https://www.cm-amadora.pt/pt/component/vikevents/?view=event&itid=2354

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Como fazer um podcast | Webinar



No dia 16 janeiro, às 10h30, será dinamizado o webinar “Como fazer um podcast”, uma sessão prática com o coordenador da Rádio Miúdos, João Pedro Costa, sobre como gravar um tempo de antena de rádio para a campanha eleitoral de Miúdos a Votos, que decorre de 22 de janeiro a 6 de março.

Este webinar destina-se aos alunos, podendo o respetivo professor assistir em direto com a sua turma, a partir da sala de aula ou da biblioteca. Podem também inscrever-se nestas sessões professores/professores bibliotecários, a título individual. Os alunos que estiverem em casa, em isolamento, poderão também inscrever-se individualmente.

A inscrição prévia é obrigatória.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Maratona de cartas 2023-24 | Os depoimentos



Relembramos que até dia 31 de janeiro poderás ainda participar na 22.ª edição da Maratona de Cartas, para tal basta assinar as petições e/ou redigir uma mensagem de solidariedade.

Aqui fica cada um dos depoimentos dos cinco casos selecionados em 2023:

Ahmed Mansoor: Preso por dizer a verdade




Ana Maria Santos Cruz: Justiça para o filho Pedro Henrique




Maung Sawyeddollah: A Meta (Facebook) deve reparar de forma efetiva as comunidades Rohingya




Thapelo Mohapi: É preciso investigar de forma rigorosa as ameaças e assassinatos dos membros do AbM




Uncle Pabai e Uncle Paul: Proteger os direitos das comunidades do Estreito de Torres




PARTICIPA!

NÃO FIQUES INDIFERENTE!

ASSINA COM O CÓDIGO: 2987 >>

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Clube do Livro Silencioso


Este ano a Livraria & Editora Snob lança o seu Clube do Livro Silencioso. Este clube permite parar para ler, mas em comunidade e, simultaneamente, em silêncio, algo que começa a ser raro.

Durante uma hora e meia é possível ler, sem interrupções. No final, são reservados 15 minutos para conversar, quem quiser, entre todos, do que está a ler. 

Cada um escolhe o livro que quer levar, a leitura é livre, a participação também.

Tem início dia 27 de Janeiro.

Local:
Livraria SNOB
Travessa de Santa Quitéria, 32 A
Lisboa

Data e hora:
Todos os quartos sábados de cada mês, das 11h00 às 12h30.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Fora da estante | Japão


As relações culturais entre Portugal e Japão têm raízes históricas profundas, marcadas pelos primeiros contactos no século XVI. Foi em 1543 que marinheiros portugueses desembarcaram na ilha japonesa de Tanegashima, tendo sido estes os primeiros europeus a realizar este feito. Durante aproximadamente um século (e até ao chamado “Édito de Exclusão” de estrangeiros) os dois países mantiveram intensas relações comerciais, que foram mais tarde reatadas e que se mantém presentemente.

A influência mútua abrange áreas como arte, culinária e linguagem, refletindo-se na presença de elementos japoneses em certos aspetos da cultura portuguesa e vice-versa. Novos vocábulos entraram na língua japonesa, juntamente com os produtos que não existiam no Japão. Podemos citar, entre outros, o “pan” (pão), o “koppu” (copo), o “botan” (botão), o “tabako” (tabaco), o “shabon” (sabão) etc. Estas palavras de origem portuguesa, ainda se mantêm em japonês e são utilizadas na vida quotidiana. Por outro lado, existem em português palavras como “biombo” e “catana” oriundas do vocabulário japonês, apesar de ligeiras alterações na pronúncia. 

Essa troca cultural é também notável, por exemplo, na introdução de produtos como o chá e a tempura em Portugal, enquanto o estilo de azulejos portugueses também influenciou a arquitetura japonesa, Esta interação destaca a diversidade e o enriquecimento mútuo das duas culturas ao longo dos séculos. 

Contudo, a literatura japonesa possui características próprias, moldadas por séculos de tradição e influência cultural, da qual se salienta a concisão e a estrutura da expressão poética, exemplificado pelo Haiku; a valorização da simplicidade e o minimalismo na expressão literária; a exploração de temas associados a valores éticos e morais, emoções humanas, relações familiares e sociais, entre outros.
 
A iniciativa Fora da estante deste mês seleciona um conjunto de quinze títulos que visam dar a conhecer a singularidade da literatura japonesa, proporcionando, deste modo, uma experiência cultural aos leitores.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Celebrar Maria Archer (1899-1982)


04.01.1899-04.01.2024

 
125 anos





Romancista e dramaturga, autora de uma ampla obra literária e jornalística. Mulher progressista, de pensamento muito avançado na geração a que pertenceu, a sua escrita abordava temáticas polémicas e tabus da condição feminina (1). Nas décadas de 1930 a 1960, produziu livros, crónicas, peças de teatro e literatura infantil; proferiu palestras, conferências; participou em programas radiofónicos, trabalhou para vários jornais em Portugal, África e Brasil. Maria Archer sofreu pressões políticas, teve obras censuradas, perdeu as condições de subsistência, foi silenciada e, por fim, condicionada ao exílio, que a manteve afastada do seu país durante mais de duas décadas. Foi uma precursora da participação da mulher na oposição ao salazarismo. 

Como antifascista interveio na Oposição à Ditadura, quer no MUD (1945), quer nas campanhas eleitorais de 1949 e 1958. Perseguida pela PIDE, exilou-se no Brasil e continuou a sua actividade literária e a acção política contra o regime. Dali só conseguiu regressar a Portugal em 1979 e, sem meios mínimos de subsistência, veio a ser internada num lar de pobres sem família, em Lisboa. Considerada uma escritora esquecida durante muitas décadas, vem sendo alvo de homenagens, recentemente, e as suas obras, parcialmente reeditadas, despertam o interesse de vários pesquisadores. Em 1948 Maria Archer escreveu: «A minha obra tem sido norteada pelo princípio vital de rebater o preconceito arcaico da inferioridade das mulheres. A chamada oposição pode contar com as mais nobres energias da minha pena de escritora, da minha voz de conferencista, e mesmo com o meu voto de cidadã» (2) A sua invulgar liberdade de espírito, associada a uma personalidade de forte carácter, que caminha determinada e independente, sem ceder a constrangimentos impostos pelo regime e pela sociedade, acabaram por condicioná-la, já doente, nos últimos anos de vida.


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1. Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira, conhecida como Maria Archer nasceu em Almodôvar, em 1899 e faleceu num asilo, em Lisboa, a 23 de Janeiro de 1982. Era filha de João Baltazar Moreira Júnior, funcionário do Banco Nacional Ultramarino, e de sua mulher, Cipriana Archer Eyrolles (1878-1949), ambos naturais do distrito de Beja. Mudou-se para Moçambique com os pais e seus cinco irmãos, em 1910. Só terminou a escola primária aos 16 anos (por iniciativa própria), tendo para isso que insistir com seus pais, por acharem desnecessária a sua instrução, pelo que podemos considerá-la uma autodidata. A família voltou para Portugal em 1914, mas dois anos depois estava novamente em África, desta vez na Guiné-Bissau. Em 1921, regressada a Portugal, Maria Archer casa-se em Faro com o bancário Alberto Teixeira Passos, celebrando a união numa cerimónia religiosa. Após o matrimónio, o jovem casal fixa residência na Ilha do Ibo, província de Cabo Delgado, Moçambique. Cinco anos mais tarde, após a queda da I República e a crise subsequente, o marido perde o emprego e o casal muda-se para Faro e posteriormente para Vila Real, terra natal de Alberto Teixeira Passos. Em 1931, o casal divorcia-se e Maria Archer foi morar em Lisboa, de onde, por falta de meios de subsistência, se viu forçada a partir para Luanda, ficando a viver com os pais. Iniciou então a sua carreira literária com a obra Três mulheres, em coautoria com Quartim Graça (Luanda, 1935). 


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2. Anos mais tarde voltou a Lisboa, e aí começou então um período de intensa atividade literária. Nessa fase, priorizou temáticas sobre África, merecendo destaque o livro Viagem à roda de África (1938), com o qual recebeu o prémio Maria Amália Vaz de Carvalho, seguido de outras obras na Coleção Cadernos Coloniais (1936 e 1938). A partir de 1938, com a obra Ida e volta duma caixa de cigarros, Maria Archer iniciou uma nova etapa de inovações temáticas, com destaque para as questões da condição feminina. Aborda assuntos polémicos e tabus, tais como: violência doméstica, sexualidade feminina, virgindade, honra, aborto, separação, trabalho e prostituição, entre outros. Os seus livros tiveram então várias edições com boa recepção e aceitação do público. Eram inovadores e provocadores, retratavam a condição e o quotidiano femininos, criticavam práticas vigentes, perversidade das relações conjugais e falsas moralidades. Sua narrativa contemplava personagens femininas combativas, independentes e sedutoras, posicionadas entre o consentido e o proibido. Em 1938, Ida e volta duma caixa de cigarros foi qualificado pelos periódicos (de cariz fascista) Voz e Novidades como “pornográfico”. O Serviço de Censura apreendeu e proibiu a obra sob a alegação de que, com seu “caracter acentuadamente erótico, a autora compraz-se na volúpia do pormenor sensual, que parece ser o único objectivo”. Apesar dos recursos interpostos (1939 e 1944), a censura manteve a decisão afirmando “que se julga de conveniência pública fundada principalmente na intenção de preservar leitores de formação incorrupta ou imperfeita de leituras que seriam perniciosas”. No caso do romance autobiográfico Aristocratas (1945), a autora entrou em confronto com a família, que se viu representada no texto e, em 1946, a irmã da escritora encaminhou, para a Direção dos Serviços de Censura, o pedido de apreensão da obra. Com o recrudescimento político e moral do regime da Ditadura, a obra de Archer é considerada “inadequada” e ela passa a ser seguida de perto pela PIDE. Em 1947, a autora cai novamente nas garras da censura com o livro Casa sem pão, que foi apreendido. Os despachos da Direção dos Serviços de Censura, assinados pelo capitão Rodrigues de Carvalho, indicavam que a obra tinha um “grave inconveniente moral”. Maria Archer reafirmava que seus escritos eram norteados pelo questionar da condição de discriminação e submissão das mulheres, mas a sua abordagem, temáticas e a descrição narrativa enfrentavam, na verdade, as concepções vigentes dos papéis atribuídos aos géneros, marcados pelos padrões ultra conservadores e moralistas do Estado Novo. Por isso, os seus livros foram identificados como ousados e acintosos, sendo a escritora considerada pelos mecanismos censórios como “incómoda” (3)


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3. Em finais da década de 1930, Maria Archer toma posição contra o regime e está presente em iniciativas políticas da Oposição, nomeadamente ligadas à Seara Nova, em que se destaca por ser uma das raras mulheres em acções públicas. A partir de 1945, assinala-se a sua presença em círculos literários, culturais e políticos, com críticas ao Estado Novo, e filia-se no Movimento de Unidade Democrática (MUD), organização de oposição ao regime fascista de Salazar. Em 1949, apoiou o candidato de oposição à presidência, Norton de Matos. Em Março de 1953, credenciada pelo jornal República, Maria Archer assistiu ao julgamento do opositor ao regime Henrique Galvão (respeitante a uma conspiração que Galvão organizara para derrubar o governo), fez anotações dos depoimentos, entrevistou o réu, advogados e o próprio o juiz, evocando a sua intenção de escrever um livro sobre a questão. Devido a essa participação, passou a ser vigiada e foi interrogada pela PIDE, a sua casa foi invadida por agentes da polícia e as suas anotações sobre o julgamento foram apreendidas. Não tardou a denunciar o ocorrido no artigo “Um caso inédito de perseguição do pensamento”, publicado na República, em Outubro de 1953. As pressões iriam ampliar-se, com ela a reclamar das hostilidades de uma sociedade conservadora, do endurecimento do regime, da perseguição da PIDE e da censura (pela interdição dos seus livros). Por fim, receando uma possível prisão e sem condições de prosseguir as suas atividades, decide exilar-se.


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4. Sem condições de viver, em Portugal, da sua produção intelectual, refugia-se no Brasil, onde chega em Julho de 1955. Um ano depois, em entrevista ao Diário de Notícias, de 1956, Maria Archer denunciou as perseguições a que foi submetida em Portugal, considerando-se “amordaçada pela censura”. Depois, à semelhança dos outros portugueses exilados em São Paulo, leva a cabo oposição ao regime salazarista, tendo a escrita como arma de luta (4), mas além disso participa ativamente em ações políticas, em várias frentes. Manteve produção de livros, crónicas, artigos, ensaios, palestras, conferências e participações radiofónicas. Os seus escritos e actuações centravam-se sobretudo na denúncia/oposição ao regime salazarista e nas questões femininas. Colaborou nos jornais: O Estado de S. Paulo (no Suplemento Literatura e Arte, mas também de forma mais expressiva e constante destaca-se a sua participação no Suplemento Feminino), na Semana Portuguesa. No jornal Portugal Democrático (regularmente de 1956 a 63), aborda temáticas políticas, com destaque para as denúncias sobre a censura e a falta de liberdade de expressão; apontando o desconhecimento e o ocultar da censura vigente nos países ibéricos, particularmente, em Portugal – deixando o seu testemunho pessoal (dois dos seus livros de ficção apreendidos pela polícia política) – bem como as consequências da censura ao processo criativo e seus malefícios para a literatura portuguesa (5). E colaborava na Revista Municipal de Lisboa (1939-1973). Alternou entre a literatura de temática africana e as obras de oposição à ditadura portuguesa. Também se encontra colaboração da sua autoria na revista Portugal Colonial (1931-1937) e na revista luso-brasileira Atlântico

Nos seus escritos do exílio, Maria Archer assumia um discurso de acusação, buscando conscientizar os leitores sobre a real situação e as atrocidades cometidas pelo governo salazarista. Nos artigos “Cai sobre nós esta vergonha, mulheres" (de 1958 e 1959), ela comentava a falta de apoio feminino nas lutas de oposição ao regime, apesar de apontar a existência de exceções, e clamava por maior adesão de esposas, filhas e mães na resistência ao salazarismo. As questões que envolviam as mulheres portuguesas estiveram sempre presentes nas lutas de Maria Archer: por exemplo, na conferência “Presença da mulher na paisagem social portuguesa”(1960). Em 1963, Maria Archer fundou a filial da União das Mulheres Portuguesas (UMP), da qual foi eleita presidente, sendo a iniciativa noticiada no Portugal Democrático. Também no “Ato Público de Solidariedade às Presas Políticas Portuguesas” (1964), onde expôs a situação das mulheres encarceradas na fortaleza de Caxias. Esteve sob a investigação do DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social, de São Paulo), sendo elaborados relatórios da sua intensa militância política (6).


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5. Depois do 25 de Abril ainda permaneceu no Brasil. A doença e o avanço da idade condicionaram-lhe muito o regresso. No seu exílio, Maria Archer buscou viver do seu ofício e, na década de 1970, os seus ganhos eram já insuficientes para custear os tratamentos de saúde. Em 1973, queixara-se à família das dificuldades que enfrentava e pedira que solicitassem uma autorização para o seu retorno a Portugal, mas só conseguiu voltar em Abril de 1979, já com 80 anos e saúde muito abalada. 

Voltou para Portugal a 26 de abril de 1979, tendo sido internada num asilo, um lar de idosos sem família nem meios de sustento, denominado Mansão de Santa Maria de Marvila, em Lisboa, onde passou os seus últimos três anos de vida. Faleceu aos 83 anos de idade, a 23 de Janeiro de 1982, sem deixar descendência. Encontra-se sepultada no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.


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6. Obra publicada
Frequentou apenas a escola primária e foi como autodidata que adquiriu ampla cultura, tornando-se escritora profissional, tendo actividade como jornalista e publicando uma imensidão de obras, que transitam por diferentes campos do conhecimento, como história, geografia, etnografia, sociologia e antropologia. A sua escrita (num estilo agradável e envolvente), procurava instruir, debater, informar, defender ideias e instigar o debate. 

  • Três mulheres (com Pinto Quartim Graça) - Luanda, 1935
  • África selvagem - Lisboa, Guimarães & lda, 1935
  • Sertanejos - Lisboa, Editorial Cosmos, 1936
  • Singularidades de um país distante - Lisboa, Editorial Cosmos, 1936
  • Ninho de bárbaros - Lisboa,Editorial Cosmos, 1936
  • Angola filme - Lisboa, Editorial Cosmos,1937
  • Ida e volta duma caixa de cigarros - Lisboa, Editorial O Século, 1938
  • Viagem à roda de África : romance de aventuras infantis, Lisboa, Editorial O Século, 1938
  • Colónias piscatórias em Angola - Lisboa, Cosmos, 1938
  • Caleidoscópio africano - Lisboa, Edições Cosmos, 1938
  • Há dois ladrões sem cadastro - Lisboa, Editora Argo, 1940
  • Roteiro do mundo português - Lisboa, Edições Cosmos, Lisboa, 1940
  • Fauno sovina - Lisboa, Livraria Portugália, 1941
  • Memórias da linha de Cascais - com Branca de Gonta Colaço, Lisboa, parceria António Maria Pereira, 1943
  • Os Parques infantis, Lisboa - Associação Nacional dos Parques Infantis, 1943
  • Ela é apenas mulher - com António Maria Pereira, Lisboa, 1944
  • Aristocratas - Lisboa, Editorial Aviz, 1945
  • Eu e elas, apontamentos de romancista - Lisboa, Editorial Aviz, 1945
  • A Morte veio de madrugada - Coimbra, Coimbra Editora Lda, 1946
  • Casa sem pão - Lisboa, Empresa Contemporânea de Edições, 1947
  • Há-de haver uma lei - Lisboa, Edição da Autora, 1949
  • O Mal não está em nós - Porto, Livraria Simões Lopes, 1950
  • Filosofia duma mulher moderna - Porto, Livraria Simões Lopes, 1950
  • Bato às portas da vida - Lisboa, Edições SIT, 1951
  • Nada lhe será perdoado - Lisboa, Edições SIT, 1953
  • A primeira vítima do Diabo - Lisboa, Edições SIT, 1954
  • Terras onde se fala português - Rio de Janeiro, Ed. Casa do Estudante do Brasil, 1957
  • Os Últimos dias do fascismo português - S. Paulo, Editora Liberdade e Cultura, 1959
  • África sem luz - São Paulo, Clube do Livro, 1962
  • Brasil, fronteira da África - São Paulo, Felman-Rêgo, 1963
  • Herança lusíada - Lisboa, Edições Sousa e Costa, s.d.

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Teatro
  • Alfacinha - comédia em 1 ato, 1949
  • Isto que chamam Amor - drama em um ato
  • Numa casa abandonada - drama em um ato
  • O Poder do dinheiro - comédia em 3 atos
  • O leilão - drama em 3 atos

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Notas:
(1)Tais como: violência doméstica, sexualidade feminina, virgindade, honra, aborto, separação, trabalho da mulher e prostituição.
(2) O Sol, Setembro 1948.
(3)«Tudo o que Maria Archer dizia era proibido. Tudo o que ela escrevia, portanto, era assustador. A desvirginização, o aborto, o prazer sexual das mulheres, a violência masculina. O trabalho escravo que as mulheres então executavam nas suas próprias casas. A violação diária na cama do casal. A passividade ou revolta contra tudo isto. A prostituição a que tantas raparigas eram obrigadas ou apenas empurradas, por uma sociedade hipócrita, que em seguida a condenava» [Maria Teresa Horta, Prefácio. In: ARCHER, Maria. Ela é apenas mulher]
(4) A colónia de exilados em São Paulo nas décadas de 1950/60 integrava comunistas, socialistas, anarquistas, liberais republicanos e até dissidentes do próprio regime que convergiam numa plataforma unificadora de contestação ao regime salazarista e se uniam em ações de oposição, actuando pela via da Imprensa. Foi o caso do grupo que fundou o jornal Portugal Democrático editado entre 1956 e 1977. Este periódico era o jornal da Oposição editado no exterior, de maior circulação, tinha a colaboração de intelectuais, escritores, e jornalistas, e contou sempre com Maria Archer, em várias matérias.
(5) No artigo “A censura à imprensa e ao livro”, em Outubro de 1956, Maria Archer lembrava: “Meus livros foram apreendidos sem a mínima justificação do acto e sem sequer me ser dada resposta aos pedidos que fiz para que essa explicação me fosse fornecida. [...] a simples existência da censura destrói uma geração literária. [...] A nossa situação é tão dura e dolorosa que o livro chega a ser apreendido em casa, ainda em original inacabado, em cima da secretaria, como me aconteceu”
(6) Participou em várias ações e em acontecimentos políticos, nomeadamente: Comité dos Intelectuais e Artistas Portugueses Pró-Liberdade de Expressão (1958), Conferência Sul-Americana Pró-Anistia para os Presos e Exilados Políticos da Espanha e Portugal (1960), II Conferência Sul-Americana Pró-Anistia para os Presos e Exilados Políticos da Espanha e Portugal (Montevidéu/1961), Encontro Estadual de Solidariedade a Cuba (integrando a mesa, 1963), Debate “42 anos de fascismo em Portugal” (PUC-SP, finais de 1968). No Ato Público em Solidariedade dos Povos de Portugal e Espanha (1962, fez parte da mesa)

Biografia da autoria de Helena Pato


Fontes:
- BATISTA, Elizabeth (2007). Entre a literatura e a imprensa : percursos de Maria Archer no Brasil [Tese de Doutoramento]. S. Paulo: Universidade de S. Paulo. 213 p. Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8156/tde-13022008-103921/publico/TESE_ELISABETH_BATISTA.pdf
- MATOS, Maria Izilda Santos de (2021), «A escrita como experiência de luta e resistência: Maria Archer». [“Trajetória de vida e produção de Archer em Portugal, em particular as ações de censura às suas obras; atuação e obras produzidas nos anos de exílio em São Paulo (1955-1979). Tem como fontes e referências: a documentação da PIDE, o acervo da Torre do Tombo e da Fundação Mário Soares, do Deops/SP (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), textos literários, cartas, fotografias, entrevistas, crónicas, imprensa, escritos de Maria Archer no exílio”] ArtCultura, v. 23, n.º 42, jan-jun. 2021, p.154-174. Disponível em https://seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/61857.
- WIKIPEDIA. Maria Archer. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Archer

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Proibido Ler!


 #rbe50anos25abril e #50anos25abril



No âmbito da comemoração do 50.º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974 a biblioteca da ESA dá continuidade à atividade: "A Biblioteca dos livros proibidos e censurados do Estado Novo".

Em Janeiro destacamos o livro Gaibéus, de Alves Redol.

Para não deixar esquecer o papel da censura nos regimes ditatoriais/fascistas.


Título:
Gaibéus : [texto integral]


Autor:
Alves Redol


Edição:
7.ª ed.


Publicação:
Mem-Martins : Publ. Europa-América, [s.d] 


Coleção:
Livros de bolso Europa-América, n.º 11 


 N.º páginas: 
 175, [1] p.



Livro do Mês | Janeiro 2024

No mês em que se recorda as vítimas do Holocausto e tendo em consideração o lema “Recordar o Holocausto para que não aconteça outra vez” a biblioteca escolar propõe como leitura o livro autobiográfico de Clara Kramer intitulado Clara: a menina que sobreviveu ao Holocausto.



Cerca de 60 anos depois de ser libertada, Clara Schwarz Kramer, com a colaboração de Stephen Glantz, decide escrever a sua história no livro que agora divulgamos e que é baseado no diário que a própria escreveu, aos 15 anos, quando se encontrava escondida no bunker.

“Um dia, do nada, a mamã olhou para mim e disse:
- Clara, vais escrever um diário.
Eu fiquei espantada.
- Para quê? Eles vão matar-nos, de qualquer maneira.
- Se nos matarem, alguém encontrará o diário e ficarão a saber aquilo por que passámos.
(…)
Mas assim que comecei a escrever, converti-me à ideia. Seria um registo. Era algo para eu fazer todos os dias, algo com um objetivo. Era uma forma de contra-atacar.”


Aqui fica uma breve referência a esta autora:

Clara Kramer nascida em 1927 vivia com a sua família (o pai, Meir, a mãe, Salka, a irmã mais nova, Mania, o avô Dzadzio e a avó Babcia) e pertencia a uma comunidade de aproximadamente cinco mil judeus em Zolkiew, na Polónia, antes da Segunda Guerra Mundial. No final da guerra, ela e os pais encontravam-se entre as menos de sessenta pessoas que conseguiram escapar com vida. Juntamente com outros sobreviventes, Clara fundou o Centro de Recursos do Holocausto, na Universidade Kean, que sensibiliza anualmente cerca de 1200 professores para a importância da preservação da memória do Holocausto. A sua história está também a ser adaptada para o cinema. Clara faleceu em setembro de 2018, com 91 anos.

O depoimento:

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Como a inteligência artificial afeta a aprendizagem



A inteligência artificial (IA) foi, sem dúvida, a palavra da moda em 2023. Temos IA em todo o lado, da mesma forma que há alguns anos o prefixo «Smart» foi colocado em qualquer coisa (vi na Amazon até uma Smart-torradeira…). Não tenho dúvidas de que a Inteligência Artificial vai representar uma revolução na forma como trabalhamos comparável à que houve quando o e-mail e a internet chegaram a todos os escritórios, mas também estou convencido de que estas revoluções levam o seu tempo. Ainda falta o suficiente para que possamos dizer que a Inteligência Artificial é imprescindível para o nosso trabalho como agora é o e-mail, por exemplo.

No entanto, é tal a magnitude da mudança que é bom prepararmo-nos. Os rapazes e raparigas que estão agora na escola começam a usar a Inteligência Artificial no seu dia-a-dia de modo que, quando daqui a alguns anos se juntarem ao mercado de trabalho, terão totalmente interiorizado trabalhar com uma IA. Trago para a discussão um estudo muito interessante intitulado «Impact of AI Assistance on Student Agency», onde se investiga como começa a mudar a forma como os alunos estão a aprender e o quão dependentes podem tornar-se da IA.

No estudo, os alunos que participaram foram divididos em três grupos. No grupo 1, chamado grupo de assistência de IA, cada aluno tinha um assistente digital que lhes dava conselhos contínuos sobre como melhorar suas atividades, avaliando constantemente o seu trabalho e oferecendo conselhos personalizados para, por exemplo, melhorar os comentários de texto que escreviam.

No grupo 2, grupo de lista de autocontrole, em vez de um assistente digital, cada aluno tinha uma lista de verificação para autoavaliar o seu trabalho, com perguntas referentes aos seus comentários de texto, tais como se tinham identificado claramente as ideias principais do texto, se o comprimento do comentário era adequado ou se a variedade de vocabulário empregado era suficiente. O aluno revia essa lista e podia identificar por si mesmo as suas áreas de melhoria.

No grupo 3, o grupo híbrido humano – IA, tanto a IA como a lista de verificação foram disponibilizados aos participantes. Finalmente, a ideia do estudo era avaliar qual o grupo que mostrava maior melhoria nos seus resultados e qual o método que lhes dava mais autonomia.

O resultado do estudo é muito interessante e aplicável a qualquer aspecto de trabalho. O grupo com assistência de IA melhorou os resultados, mas tornou-se absolutamente dependente da IA. Quando ela foi dispensada, o desempenho dos alunos caiu drasticamente. Ou seja, a IA foi uma ferramenta muito eficaz, mas não lhes serviu para aprender praticamente nada. O grupo híbrido humano – IA, teve um comportamento muito semelhante ao do grupo apenas IA, ou seja, a adição da lista de controle teve pouco efeito. Os alunos também se tornaram dependentes da IA.

Em suma, a IA é uma ferramenta muito poderosa, mas é verdade que usá-la gera uma espécie de falsa potencialidade. Parece que seremos capazes de fazer qualquer coisa, mas na realidade, não teremos nenhuma diferença uns dos outros. A IA gerará resultados mais ou menos semelhantes para todos, use quem a usar, se não formos capazes de aprender com ela ou melhor, de a incorporar nos nossos processos de aprendizagem. Os grandes fabricantes de software de inteligência artificial chamam aos seus aplicativos de «Copilot» (copiloto, no caso da Microsoft) ou Duet (Duo, no caso do Google) para enfatizar que a IA deve ser uma ajuda, um complemento. Mas o factor chave, aquele que dirige e marca as diferenças, deve ser a pessoa. Sem interiorizar isso, a inteligência artificial transforma-nos noutros robôs com pouca inteligência natural para aplicar.

Texto retirado de: 
BORGES, JF. TIC, Educação e Web. Disponível em https://jfborges.wordpress.com/

Explorando a Inteligência Artificial: práticas educativas para o 1.º CEB | Ebook

Título: Explorando a Inteligência Artificial: práticas educativas para o 1.º Ciclo do Ensino Básico
Autores: Cláudia Meirinhos, Manuel Meirinhos,Rui Pedro Lopes
Publicação: São Paulo: Pimenta Cultural, 2023
N.º pág. 201 p.



"A Inteligência Artificial (IA) é uma temática emergente na sociedade atual. É um campo em permanente evolução, ao mesmo tempo fascinante e inquietante, na medida em que a sua evolução é geradora de futuro. A Educação de hoje requer o desenvolvimento de competências, relacionadas com a IA, desde a escolaridade básica. Preparar os alunos para viver num mundo incerto, implica repensar o modelo de escola e uma aposta na inovação das práticas pedagógicas".

Clique na capa para aceder ao documento.

Fonte: Borges, JF. TIC, Educação e Web. Disponível em https://jfborges.wordpress.com/

Inteligência artificial e educação | Ebook

Título: Inteligência artificial e educação : refletindo sobre os desafios contemporâneos
Autor: Lynn Alves (org.)
Publicação: Salvador (Baía) : EDUFBA ; Feira de Santana (Baía) : UEFS Editora, 2023.
N.º pág. 227 p.


"A coletânea não tem intenção de apontar verdades absolutas, mas de provocar em especial educadores a interagir com as ferramentas tecnológicas, em especial as IAs destacadas, construindo olhares críticos que vão além de perspectivas tecnofóbicas. Na primeira parte são apresentadas linhas cronológicas para entender o avanço da IA e o marco diferencial com a emergência da Inteligência Artificial Generativa (como ChatGPT 3.5, ChatGPT 4.0, Dall-E e Midjourney), além de serem apontados os riscos e as possibilidades ao interagir com tais instrumentos tecnológicos, especialmente no cenário educacional. Já a segunda parte da obra, “Mediação da Inteligência Artificial nas práticas pedagógicas e investigativas”, traz reflexões e práticas de professores e investigadores brasileiros e portugueses com a interação dessa tecnologia nos espaços de aprendizagem".


📌PREFÁCIO: 
      NAVEGANDO NAS ONDAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


Caro leitor, 

É com imenso prazer que lhe apresentamos esta obra coletiva, resultado do trabalho conjunto de pesquisadores e professores brasileiros e portugueses. 

Nas páginas que se seguem, você encontrará um mergulho profundo e reflexivo sobre a presença da Inteligência Artificial (IA) nos espaços escolares e académicos. Nossa intenção é desvelar as múltiplas dimensões, tensões e possibilidades que essas tecnologias trazem consigo, com destaque especial para a presença marcante do ChatGPT. 

A IA tem se mostrado uma força transformadora em diversos aspetos de nossa sociedade, e a educação não poderia ficar à margem dessas mudanças. No entanto, ao explorarmos a relação entre a IA e os ambientes educacionais, somos confrontados com uma série de questões complexas e desafiadoras. Neste livro, buscamos ir além da superfície e adentrar nos meandros dessa temática, trazendo à tona debates necessários e cruciais. 

Uma das questões que nos acompanham ao longo desta jornada é a falta de transparência dos algoritmos. Como confiar em sistemas que tomam decisões sem que possamos entender os critérios utilizados? 

Como lidar com a opacidade que permeia o funcionamento dessas tecnologias? Nosso objetivo é promover a reflexão sobre a necessidade de maior transparência e responsabilidade na criação e implementação de sistemas de IA, especialmente quando estes afetam diretamente a vida dos estudantes e professores. 

Além disso, não podemos ignorar as implicações sociais da IA. A questão do racismo algorítmico ganha destaque, pois a tecnologia, se não desenvolvida com uma perspetiva crítica e inclusiva, pode perpetuar e agravar desigualdades existentes. Como podemos garantir a equidade e a justiça em um ambiente mediado por tecnologias inteligentes? Quais são as medidas necessárias para evitar a perpetuação de vieses e discriminações? 

Outro desafio central que enfrentamos é o fenómeno das fake news, que se espalham rapidamente nas redes sociais e outras plataformas. Como podemos utilizar a IA como aliada no combate à desinformação? E quais são as implicações éticas e de autoria relacionadas ao uso de sistemas inteligentes na produção e disseminação de conteúdo? Estas são questões urgentes que demandam análise cuidadosa e soluções eficazes. 

É importante destacar também a necessidade de regulamentação da IA. À medida que essas tecnologias avançam e se tornam cada vez mais integradas à nossa vida diária, a criação de políticas e marcos legais se faz essencial. Quais são os limites éticos e legais que devemos estabelecer? Como garantir que a IA seja utilizada de maneira responsável e em benefício da sociedade como um todo? 

À medida que avançamos na leitura desta obra, seremos convidados a refletir sobre essas questões e a explorar outros aspetos que se tornaram essenciais para compreendermos e convivermos com a mediação das tecnologias inteligentes, como a IA. Acreditamos que somente por meio da reflexão e do diálogo aberto poderemos encontrar caminhos para lidar com os desafios e aproveitar as oportunidades proporcionadas por essas tecnologias. 

Esperamos que este livro seja um convite à reflexão crítica e um ponto de partida para debates profundos sobre a presença da IA nos espaços escolares e académicos. Que ele inspire educadores, pesquisadores e todos aqueles interessados na educação e nas implicações da IA a compreender, questionar e transformar a forma como a tecnologia é incorporada no contexto educacional.

Agradecemos a todos os pesquisadores e professores que contribuíram para a produção deste livro e a todos os leitores que se aventurarem por suas páginas. Que esta obra seja um farol que ilumine o caminho rumo a uma relação mais consciente, ética e humanizada entre a IA e a educação. 

Boa leitura e que as reflexões aqui contidas ecoem em nossas práticas educativas, inspirando a construção de um futuro em que a tecnologia seja uma aliada potente para o desenvolvimento humano. 

ChatGPT 

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Fonte: