domingo, 31 de dezembro de 2023

Feliz 2024!


A coordenação da Biblioteca Escolar – Centro de Recursos Educativos da Escola Secundária da Amadora deseja à Comunidade Educativa e a todos os leitores / acompanhantes deste blogue um Bom Ano e reproduz para início de 2024 o poema de Carlos Drummond de Andrade, com o título "Passagem do ano".


PASSAGEM DO ANO

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus. . .

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo.
e de copo na mão
esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles. .. e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Carlos Drummond de Andrade
Fonte:
& Escritas.org. Acedido em 29.12.2023 em https://www.escritas.org/pt/t/10947/passagem-do-ano



quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Conto de Natal de Fialho de Almeida


Conto do Natal


Há de passar talvez das onze horas. A noite afinal pôs-se serena, não bole vento, as solidões escutam... – é como se a terra inteira estivesse à espreita de ouvir tocar o sino para a missa. Pela estrada que passa entre Vila de Frades e Vidigueira, vem descendo uma velha arrumada ao seu bordão de pobrezinha. O rastejo dos passos dir-me-ia porventura a idade dela: o luaceiro entanto, nuverinhado em céu de bruma, apenas deixa aperceber a silhueta curvada para a terra, com um pedaço de manta sobre os ombros, o saco às costas, e as canelas sem meias, entrapadas em ligaduras repelentes. Ao pé da ponte a mulher para. Por detrás daqueles choupos, lá em baixo, à beira-rio, havia noutro tempo um forno de tijolo, agora pelo Inverno abandonado. Ela adianta-se, procura... A estrada passa de alto, ladeada de acácias e eucaliptos. E derredor, nos plainos baixos, as escavações do barro espapam-se nas águas da cheia, em lúgubres lameiros, cuja ervançum dá residência a uma colônia rouca de sapos.

A velha estende o bordão para a barreira, procurando vereda num chão firme, em cujo barro os seus pobres sapatos rotos não mergulhem.

Malgrado o embrutecimento da idade, o frio, a fome e o desejo de amosendar para ali, no forno de tijolo, longe das apupadas dos cães e dos rapazes, uma nostalgia poética ergue-lhe a vista, e então recorda-se, e quer circunvagar os seus cansados olhos para o largo. É uma esquelética paisagem de dezembro, nua e cansada, quando já a natureza se alquebra toda em desalentos, e os troncos das árvores parece que estrebucham, como os famintos de Londres, numa bebedeira de ódio, truculenta. No primeiro plano há terras de vinha, olivais muito negros e colinas redondas com moinhos. Para as bandas da Vidigueira risca a neblina um traço negro, que deve ser a torre do relógio – depois, à direita, uma mancha de cal, o cemitério. Lentamente, à medida que o raio de visão se prolonga no horizonte, os outeiros complicam -se, as formas perdem sua delineação traço por traço, e toda a cordilheira dir-se-ia pintada numa sucessão de panos de teatro, a cinza-claro, e gradações mais e mais desvanecidas.

Oh, que sossego! Uma divina essência, abstrata, etérea, vem oscular as urzes e as levadas. Do seio das negridões, de quando em quando, brotam suspeitas de formas vagabundas, a branco-cinza esboços de sonhos, almas erráticas que debandam, noitibós que se acolhem, friorentos na noite, às pedras das ruínas... Vem um acorde triste dos cardos secos da margem dos alqueves, dos pilriteiros sem folhas e dos zambujos frugais das ribanceiras. E as águas do ribeiro troam nas pedras, por entre as canas e os choupos, cujas varas se esfalripam nos ares, tísicas e brancas, com um ou outro corvo por folhagem.

Da outra banda são semicírculos de terras e valados, com freixos altos em silhueta no tom madrepérola da lua, e alternativas de negro e zonas claras, que dir-se-iam feitas num desenho a carvão, com lápis prateado.

Todas aquelas brancuras vêm do extremo horizonte aos olhos da mendiga, por suspeitas, desagregadas das formas, abstraídas do resto da paisagem, e todas poderiam interpretar -se como efeitos de neve, de luar, de água dormente, tanto a neblina enche de fantasmagorias a noite e presta uma alma incoerente àquela cenografia de balada.

Há porém no sopé daqueles montes um ponto que a velha ansiosamente procura. É o pequenino convento de capuchos que alveja da banda de Vila de Frades, derrocado, entre oliveiras. Lá corre o muro da cerca, até se perder num grupo de ciprestes. Naquela cerca, já depois de profanado o conventinho, era antigamente o cemitério: um cemiteriozinho de aldeia, com malmequeres e figueiras bravas, crânios à solta, e nenhuma cruz ou mausoléu comemorando a jazida de qualquer. Ali repousam os parentes e amigos da pedinte, pais e irmãos, filhos e netos: só ela, errante de povo em povo, sem um afeto que a proteja, sem uma boca amiga que a console, vai pelo mundo a mendigar de porta em porta!

Vinte e dois anos passaram depois que ela abalou da sua terra, e quatro ou cinco vezes lhe sucedeu passar ali como estrangeira, com os olhos no chão, corrida de vergonha, vendo a igreja aberta e tendo medo de entrar, passando ao resvés das casas ricas, e arreceando-se de pedir esmola à criadagem; e depois, ao toque das Trindades, noite fechada, detendo-se a escutar de longe os conhecidos rumores do lugarejo. Oh, essa chafranafra da volta do trabalho, com guizadas de mulas tintinando, estrupidas de carros desferrados, e as boas-noites trocadas, os cavadores cantando em coro pelos caminhos, a crepitação da lenha nas lareiras – e depois, no bocal das fontes, o mulherio que pousa os cântaros e entre risotas comenta as picarescas histórias da semana!

É quando numa melancolia doce o dia morre, e grandes nuvens esmagam no poente as vermelhidões crepusculares. É quando uma exalação envolve as cúpulas das árvores e, das terras molhadas, claridades efémeras fosforejam, e uma voz corre e suspira à flor das ervas.

Pois acabou-se, acabou-se! E a triste da mulher desce a barreira, agredida por tudo, as recordações, a noite, o frio, a fome... Não, não repousará entre os demais, no pobre cemitério da sua aldeia, em que avoejam corujas e francelhos: a casa onde nasceu foi demolida: arrancaram a vinha que o marido plantara, há cinquenta anos, com solicitudes de bom cultivador: e ninguém na vila já se recorda da Josefa, da viúva do Pratas, mãe duma filha bonita que anda agora nas feiras, de cigarro, e passa o Inverno em braços de soldados, numa viela infame de Estremoz. Ao acercar-se do forno, uma claridade viva a surpreende. O alpendre ficava do outro lado, numa descaída brusca do montículo, e ali está gente, há falas de homem... – ai pobre velha! aonde há de ela ir passar a noite àquela hora?

Por um momento ainda ela faz um passo para costear o forno, e ir pedir agasalho à fogueira de quem quer se acoite no telheiro. Mas logo em seguida reflete. Que qualidade de gente será? Recebê-la-ão com caridade? Um vago terror se apossa dos seus membros: pé ante pé busca afastar-se... Mas como tem as pernas e os braços regelados! Um torpor lhe paralisa os movimentos, anestesia-lhe os dedos, e pesa-lhe nas pálpebras com sonolências de chumbo. Nos campos paira um sossego terrível e perverso, em cuja abóbada se respondem os latidos dos cães, pelas malhadas. A geada branqueia o alqueve das courelas, queima os favais. E a claridade no alpendre é cada vez mais confortante, milhares de faúlhas sobem pelos ares, na fumarada da lenha úmida de oliveira, que estala e arde em flamazinhas rápidas e alegres. Ela então cede, resolvida a entrar na zona iluminada, e a pedir agasalho aos forasteiros que a anteciparam.

Chegara quase à boca do telheiro, oculta ainda por trás dum grupo de árvores, perto do rio – quando de repente estruge um grito largo, começado em surdina, e sacudido depois em frenéticas uivadas, com uma expressão de sofrer dilacerante.

Ao primeiro berro, um homem que estava acocorado por diante da fogueira, salta de golpe, e fica um instante secado, à escuta da noite, bebendo os rumores do largo, enquanto desenrola a cinta da cintura. Aquele berro, a velha conhece-o, é horrível e terno, angustioso e delicado, e toda a mulher que o solte principia esposa e acaba mãe.

Havia pois no alpendre uma parturiente a reclamar os seus cuidados. O desejo da velha era correr, mas do seu canto de sombra a pobre hesita, vendo o homem girar pelo telheiro a passos furiosos, ir, voltar, acachapar-se instantes sobre o vulto que bole lá no fundo do alpendre, em estremeções aflitos: e enfim, jurar, bramar, ordenar-lhe silêncio, prometer-lhe pancada, exasperado cada vez mais, por aquela algazarra que pode deitar tudo a perder.

Há um momento em que eles cuidam ouvir um murmúrio de rodas, afastado, talvez uma sege que passa, levando alguém à missa de Natal. Aqui a raiva do homem não conhece limites, e ei-lo corre à mulher de punho armado, prestes a dar -lhe, caso prossiga o berreiro escandaloso. Vem, com efeito, na estrada uma berlinda, com guizadas nas mulas, e vermelhidões de lanternas entre as árvores. E o homem precipita-se, enclavinha os polegares assassinos sobre a garganta da mulher.

– Calas-te ou morres!

E a sua voz surda, pequena, sacudida, humilde quase, vem explosindo e crescendo, até bravejar num rouquejo de cólera exaustinada – Cala-te, diabo, Cala-te, estafermo!

A mãe, coitada, mal pode estrangular os urros que a expulsão lhe arranca, em dores medonhas, como se trinta mãos brutais lhe estivessem arrancando as vísceras, ligamento a ligamento. Já a berlinda passa, ao trote rápido das suas quatro mulas espanholas... um ou outro corvo solta nas faias o seu grasnido estremunhado, e outra vez a paisagem fica muda, entre as brumas e as sombras, o fragor da ribeira, e a uivadados cães pelos currais. É esse o instante de a mendiga fazer um passo, abandonando o círculo da sombra, prestes a dar-se, toda cheia de celestes compaixões por essa mísera mulher que a desgraça forçou a vir parar numa ruína, sem ao menos ter a aquentá-la, como a Virgem, o hálito da vaca e da jumenta, e as solicitudes ideais do carpinteiro.

Mas tudo aquilo é rápido e fugace. Os gritos da mulher tinham cessado: lento e sinistro, o homem voltara a acocorar-se perto da fogueira, com uma expressão de campônio perverso, meia animal, meia humana, onde o brilho dos olhos punha uma sagacidade extraordinária. Ele despira a jaqueta, tem as mangas da camisola arregaçadas, as mãos sujas de sangue...

– É rapariga ou rapaz? – disse a mulher.

Ele estivera algum tempo a ligar-lhe coa cinta o ventre dolorido: não retrucou. Dera na torre da Vidigueira a meia-noite, e em Vila de Frades logo começou a tocar para a Missa do Galo. O cerraceiro morrera pelos campos, e as cumeadas do céu, azuis e vastas, refulgiam de estrelas e luar. Coisas opacas brotavam dos terrenos, formas dormentes, que pareciam vaguear nas ouvielas moles dos farrejais.

Perto, nos choupos, havia gestos de angústia e imploração; saíam vozes da água, preguiçosas e místicas como trenos, e certas troncagens tinham expressões humanas na noite, que perturbavam de morte o arregaçado.

Outra vez então aquele homem se ergueu com modos lentos, veio escutar. Os sapos tinham-se afinal calado nos algares, pairavam no sossego as asas áfonas dos mochos dando espirais de roda ao forno de tijolo. E mau grado o frio, aquela noite de Natal vinha suave, com poucas cores mas delicadas, e cambiantes de céu, que o vento, uma após outra, transmutava.

– Dá-me a criança... – disse a mulher. – Quero-lhe dar mama, não me morra de frio, a pobrezinha!

Ele tinha nas mãos o pequeno ensanguentado, que vagia de frio, conjugando os beicitos numa sucção de instinto, que devera ter feito sorrir de enternecido um outro pai. E saiu do telheiro, o pequeno pendente da manápula, o cenho torvo, o ar facinoroso.

A velha, vendo-o, estendera-lhe os braços do seu canto: e ele vagueou assim por aqui, por além, entre os troncos das faias e os silvados, atascado na lama, mas sem poder estar quieto em parte alguma, e como se pela marcha desse vazante ao frenesi mental que o devorava.

Havia à beira da água um pedregulho. Ele deteve-se. Instantaneamente a sua cara envelhecera, leques de rugas radiavam-lhe dos cantos das pálpebras, sobre a pele da testa e da faceira, e a lívida boca, agora seca, súplice quase, tinha sombras de angústia às comissuras, e convulsivos tremores nos beiços desbotados.

Mais uma vez lançou a vista ao derredor, numa suspeita atroz de o estarem vendo, e ergueu o braço, com o pequeno seguro pelos pés, como um coelho... Porém a luz do luar incomodava-o.

Tornara para trás, desalentado, furibundo consigo, e resmungando alto imprecações. Mas veio-lhe de repente uma veneta, e bruscamente, com um resfolegar de bezerro, escavacou o pequeno contra a rocha. A pancada dera na pedra um som de melancia podre, esborrachada, em surdina, baça e turgente. Foi um momento, aquilo, e todas as coisas voltaram ao êxtase hibernal de instantes antes.

O homem ainda esteve curvado um pouco de tempo, sobre os atasqueiros glácidos do rio – uma solenidade pairava ao fundo do espaço – até que afinal saiu das ervas, com o cadáver suspenso pelos pés, todo sangrento, um cadaverzinho de infante recém-nado, roliço e roxo, cuja boquinha fria de inocência, e cuja alma devera estar-se incorporando àquela hora no cortejo de eleitos, que todos os anos vem, com o menino Deus, refazer na crença dos simples a suavíssima lenda de Natal.


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Fialho de Almeida, em “O País das Uvas” (1893)
Desenho de Euclides (Revista Vamos Ler!, 18/12/1941)

Fonte:
Contos de Natal portugueses : colectânea de histórias, textos, lendas e poemas. (Em linha). Acedido em 27.12.2023. Disponível em https://www.berci.pt/contos-de-natal-portugueses.pdf

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Um conto de Natal

O Natal dos pobres, de Raul Brandão


Nesta quadra festiva somos bombardeados com imagens de intenso sofrimento vivido por muitos seres humanos que sobrevivem, em palcos de guerra; por outros, que fogem da miséria e da fome, formando longos cordões humanos, e que almejam alcançar a segurança;  e ainda, pela recente divulgação dos resultados do inquérito às condições de vida e rendimento dos portugueses em 2022, que revela que vivia em Portugal 1696 mil pessoas (17,0% da população) em situação de risco de pobreza, ou seja, com um rendimento inferior a 551 euros mensais. Estes valores mostram que o risco de pobreza em Portugal aumentou 0,6 %, de 2021 para 2022, vindo a atingir todas as classes etárias conforme mostra a figura 1.


Figura 1 - Pirâmide etária da população portuguesa em risco de pobreza, em 2022

Fonte: Pobreza e exclusão social em Portugal: relatório 2023. 


Neste contexto torna-se atual  recordar o capítulo XXVI - O Natal dos pobres -, da obra "Os pobres", de Raúl Brandão, publicado em 1906.


O NATAL DOS POBRES


Natal.

Está um dia fosco de neblina incerta e tristeza. Para lá as árvores despidas não bolem. A vida parou. As nuvens andam a esta hora a rastro pelas encostas pedregosas dos montes. Não se ouve um grito. Tudo na natureza se concentra e sonha. Há no entanto um grande rio envolto que nunca cessa de correr…

Longe pelos caminhos, através de pinheirais cismáticos e calados, vão velhinhas tristes, de saia pelos ombros, para consoar nessa noite com os filhos. Andam trôpegas léguas e léguas. As suas mãos calosas, as caras enrugadas, onde as lágrimas abriram sulcos, os olhos tristes, contam o que elas têm passado na vida, dias sem pão, suor de aflições, desamparos, maus tratos…

Os cavadores deixaram os arados mortos nos campos, que a chuva alaga. Que tudo repouse. O vinho de hoje conforta, como as lágrimas choradas pelas nossas desgraças, o lume de hoje aquece como o amor de nossas mães.

Nos soutos, sob a chuva que cai mansa e continua, andam pobres que não têm lenha, a arrancar uma raiz esquecida, para se aquecerem. Deus os tenha na sua mão de pai. Partem, chegam, vêm muito longe, para verem os seus meninos, matando saudades. Quase não comem e sustentam filhos, sustentam netos. Os velhos, que tem atrás de si uma vida de martírio e fomes, dizem:

– É hoje o maior dia do ano…

Na lareira arde um canhoto. Cai o nevão. A cozinha é negra, de telha vá, é negro o frio, mas as almas sentem-se agasalhadas. Por um buraco avistam-se as estrelas e uma pedra serve de lar. Ao estalido das pinhas, abafadas na cinza, repartem um pão que é o suor do seu rosto, bebem o vinho aquecido em árvores que as suas mãos cortaram…

Sentados ao lume não falam. As brasas vão-se extinguindo como um poente, ou como uma alma que vai deixar-nos. A Morte passa. No buraco do telhado a estrela reluz, o nevão cai com um ruído das flores desfolhadas, e cada um cisma em alguma coisa de indeterminado e vago, de longínquo; em certa hora da vida, na mãe, num filho ausente, naquela morta que passou seus dias a sacrificar-se por nós…

– O lume apaga-se…

– Deitai-lhe canhotos.

O lume apaga-se e as sombras da noite, em revoadas, vêm escutar-nos atentas.

Os pobres são como os rios. Estancam a sede da terra, fazem inchar as raízes e crescer as árvores acarretam; moem o pão nos moinhos. Ei-la a vida da terra. Todas as catedrais se construíram da sua dor; sem eles a vida pararia.

Natal dos pobres! natal dos pobres!… Porque é que criaturas misérrimas encontram ainda na sua gélida nudez horas para recordar e amar? Pobres repartem o seu pão; espezinhados dão-nos das suas lágrimas. Vinho quente! vinho quente e amargo, que sabe a aflição! Chegam-se uns aos outros para se aquecerem. Nas enfermarias, nos sítios onde se sofre, os míseros e os doentes quedam-se muito tempo a cismar. Os pobres pensam que existem seres ainda mais pobres, lares desamparados, onde nem o lume se acende; cuidam numa velhinha, que, a essa mesma hora, cisma, abandonada, e sozinha, ao pé de brasas extintas no filho doente, no filho ausente… Há cabanas nuas, lares rotos, almas mais gélidas que o nevão.

As lágrimas que se choram e se não veem são as melhores: caem sobre a alma.

Sofia sobe as escadas com uma caneca de vinho quente, para repartir com o Gebo. Na sua fisionomia há um cansaço enorme.

A chorar, misturando-lhe lágrimas, o velho, mais gordo e todo branco, bebe o azedo vinho quente das prostitutas. Depois abraçados soluçam na trapeira fria. Fora não se ouve rumor: as coisas ingeridas escutam. Põem-se a cismar na mãe que descansa na terra encharcada. Tudo tão triste, dias sem pão, e o amor a prendê-los, a uni-los, mais forte que a desgraça. Não protestam, não têm forças para gritar. Baixinho o velho Gebo e a filha choram aquela que a terra primeiro tragou.

– Se o Senhor também nos levasse…

E Sofia bebendo do mesmo copo:

– Tenha paciência, tenha paciência…

– Se o Senhor nos levasse juntos, na mesma hora…

Cuido que não tinha tanto frio.

– Aí tem pão.

– Sabes? Eu tenho medo de morrer. Se morresse contigo, minha filha, não tinha tanto medo.

– A mãe lá nos espera. Na cova acabam-se as precisões e as lágrimas…

– Tudo se acaba na cova. Chegada a nossa hora, acaba-se também a desgraça.

– Aqui tem o vinho.

Natal dos pobres, noite de comunhão, noite de lágrimas e saudades! Não é chuva que cai sem ruído, são lágrimas. O Gebo abre a janela e põe-se a falar para a escuridão com palavras que a noite escuta, com palavras que a noite leva. Sofia o ampara. 

Em torno da mesa de pinho ceiam as mulheres. Com os cotovelos fincados nas tábuas, olham o vinho quente e cismam… Ceia de natal! Ceia de natal!… Até as prostitutas se querem lembrar… Moídas de pancadas, têm más palavras, gritos, e um sorriso humilde. Fazem-se pequeninas para que lhes perdoem uma vida infame.

Falam! falam!… Parece que a mesma primavera negra fez dar emoção a estas criaturas exploradas e servidas. Lembram-se da sua vida, sempre lágrimas, risos sem piedade… Uma começa:

– Ninguém canta?

E logo outra, como se as palavras lhe saíssem de golfão:

– Eu cá foi por fome que me desfrutaram. Ninguém queria saber de mim e a minha madrasta calcava-me aos pés.

– Eu não sei como foi…

– E eu então – continua – foi por fome. O pai estava encarangado e a minha madrasta era tão má, que, por eu me demorar num recado, partiu-me um braço.

– Pois eu foi assim de repente… – diz outra.

– Ia pela rua fora. Vinha da fábrica, começou a chover e uma lama!… Tinha frio e um homem pôs-se a falar-me ao ouvido e a levar-me. Eu nem sei como aquilo foi… E a falar, a falar, até me doía o coração! E nunca mais o vi. Se o vir acho que nem o conheço.

– Enganam e nunca mais querem saber.

– A mim minha mãe bem me pregava mas a gente que há de fazer?

– Ontem os soldados puseram-me o corpo negro – diz uma.

E mostra a triste carne magoada, os seios murchos e com nódoas. No ombro os ossos furam-lhe a pele.

– Quando eu morrer… oh quando eu morrer!…

– Tola!

– Que tem? Tenho ali a roupa apartada.

– A mim, enganaram-me, levaram-me… Eu não sabia nada. Depois comecei a servir. Enganavam-me e punham-me fora… Depois não tinha mais para onde ir…

– Eu cá tive um filho…

Uma que estava calada soluçou no escuro. E como todas se voltassem pôs-se a rir e a ajeitar os cabelos.

– Eu tive um filho e pus-me a criá-lo.

Depois disso o meu amigo nunca mais quis saber.

Quando eu o procurava ria-se. Mostrava-lhe o inocente e ele punha-se a rir.

 – Mulheres não faltam, dizia-me. Vai-te! – E a gente fica feia. Vai um dia e disse-me: – Se cá tornas chamo a polícia.

– Eu chorei até não ter mais lágrimas e acabou-se tudo. São todos o mesmo. Noutro dia vi-o, mas ele fingiu que não me conheceu.

– E o teu filho era bonito?

– Era um anjinho do céu. Tanto chorei que secou-se- me o leite de chorar. A gente sempre e mais tola!…Pôs-se muito chupadinho e morreu.

– A Maria já deitou um à roda.

– Eu cá se tivesse um filhinho acho que morria por ele. Não tinha coração para o dar a criar.

– A gente não podemos ter filhos.

– Eu cá era uma inocente. Até me dá riso! Tinha treze anos e foi logo ao entrar para a fábrica. O mestre foi quem me desfrutou. Agarrou-me, mas eu não sabia e pus-me a chorar. – Cala-te! se dizes, vais para a rua! – Abandonou-me, outros vieram… A gente há de cumprir o seu fado.

– Eu cá fui um miminho. Meu pai tinha de seu… Depois tudo esqueci, porque senão a gente morria. Meu pai era muito meu amigo. Era preciso não ter coração para o enganar. Nem ele podia supor mal de mim, nem do outro que entrava na nossa casa. Meu pai era também muito amigo dele e tinha-lhe valido sempre. Ainda me lembro, quando meu pai comigo no colo me dizia: – Tu és o meu coraçãozinho… – Eu sempre tive um colo! Olhai: embalava-me como às crianças. – Falta-te a tua mãe, mas eu sou a tua mãe, queres? – Era uma dor do coração enganá-lo e nós enganámo-lo ambos. E eu bem sabia que ele era casado, mas mentia-me…

– Porque será que os homens mentem sempre?

– Mentia-me sempre, e eu era inocente. Mentiu-me e mentia a meu pai. O pior é que um dia fiquei grávida. Começou o meu castigo. – Vou-lhe dizer tudo.

– Diz – disse ele. Mata-lo. Se queres diz… – Eu calei-me.

– E agora? – Agora… – Eu já lhe não queria, acho mesmo que nunca lhe quis deveras. Foi uma desgraça. Já estava escrito que fosse desgraçada, acabou-se!… Depois não podia esconder o meu erro. Só meu pai não reparava… E ele que me imaginava uma inocente!… Esperai… – E agora? agora?… – perguntei-lhe. Então arranjei com que meu pai me deixasse ir com ele e a mulher para uma quinta. Se vós vísseis! A pobre da mulher! Batia-lhe sempre, tratava-a pior que a um cão.

– Cala-te! e ela calava-se, a pobre. – Fala! – e ela falava.

– O estupor, tu não te calarás! – Ela tinha os cabelos todos brancos e vai eu um dia perguntei-lhe quantos anos tinha. – Trinta – respondeu-me, e calou-se. Fiquei passada. O homem diante dela dava-me beijos para a ver chorar. Dizia-lhe: – Vou dormir com ela, ouves, velha? – E dormia comigo. A senhora não dizia palavra. Chorava e punha em mim uns olhos tão tristes, que faziam aflição. Um dia que ficámos sozinhas, ela disse-me: – A menina há de ser uma infeliz. – Eu chorei; e ela com a mão nos meus cabelos, a fazer-me festas! – Coitada! coitada, que sorte a sua tão negra!… Ainda eu… – Porque não o deixa? – perguntei-lhe. – Já me tinha deitado ao rio se não fossem os meus filhos.

– Ele sempre há desgraças! Às vezes mais vale ser mulher da vida.

– Esperai pelo resto. Tive as dores uma noite no verão, em a gosto, e a pobre da senhora é que me tratou.
Ele levou-me logo o filho. Na outra sala ouvi gritos. Vai e atirei-me pela cama fora, sem saber o que fazia. – Onde está o meu filho? – Fui mesmo de rastos e pus-me à porta a escutar. Eles berravam. – Se falas esgano-te! – dizia o malvado à mulher. – Mata-me! – tornava ela. – Tu queres a minha desgraça? Estorcego-te! – Depois ouvi um grande grito e fiquei como morta. – O nosso filho? o meu filho? – Nasceu morto. – A mulher a um canto chorou. Chorou sempre depois.

– Tinha-o matado, o malvado?…

– Tinha. Afogou-o na latrina. Depois veio a polícia. Esperai… A criada ouvira os gritos. Sabe-se sempre tudo, o diabo tapa dum lado e descobre do outro. Ele fugiu para o Brasil, eu fui presa, e meu pai diante duma ingratidão tão negra – quereis crer? – estalou-lhe o coração. Depois… depois… A gente quando nasce já tem a sua sina escrita.

– E a ti?… Não falas? – perguntam a uma sumida no escuro.

– A mim enganaram-me. Foi há tanto tempo que já me não lembra. Tudo perdi.

– E a tua família?

– A gente não tem família.

Na noite, a um canto do Hospital o velho banco de tábuas puídas, dá-lhe também para cismar. A ventania parou. Duma fresta tomba luar. A treva amontoa-se ao fundo, e, para além, nos corredores abobadados, arde um lampião. Direis que o negrume remexe: pedaços de escuridão destacam-se, escoam-se sem ruído pelas muralhas húmidas e espessas. Mais para o fundo há como um abismo, vala comum de treva empastada. Os gritos redobram; depois, por momentos o silêncio sufoca, como o dum sepulcro.

– Se é luar que cai daquela fresta… – cuida o banco.

– Se fosse luar!

Pela escada vê-se a enfermaria onde os lampiões em fila dão uma claridade triste, que mostra os corpos moldados em branco, caídos nos leitos: parece uma necrópole subterrânea e imensa.

– Se fosse luar… – Há que tempos que não sinto o luar. Era como um ruído branco que me envolvia outrora na floresta. Neva às vezes luar. E havia ainda outras vozes… Sempre se sonha, quando certas noites nascem!

Era diferente… Havia rumor nas folhas e o vento dizia aos ramos histórias acontecidas noutros montes. Há épocas em que o vento traz noivados, ais de sapos, frangalhos arrancados às flores… Se aquela poeira fosse luar… E se o luar se pusesse a correr sobre mim, aquecendo- me como outrora, quando em mim subia não sei o quê de misterioso e forte?

Redobram os gemidos, os estertores, os gritos. Os últimos lampiões apagam-se um a um, como se alguém lhe soprasse. É a Morte seguindo o seu caminho. Sombras esvoaçam. E a cova, negra, toma corpo, vive, mais calada, maior, vala infinita, a que uma luzinha dá alma. E o banco cisma:

– Há que tempos que não sinto em mim a luz da manhã, que traz consigo a vida de tudo o que existe, dos rios, das outras árvores, nem o sol a crescer em vagas de oiro, nem a água verde, melancólica, e tão mansa entre os choupos que parece ir vogando já morta… Sinto-me transido… Transido? Isto é corno fogo, mas trespassa-me de frio. E não há nevão, mas ouço sempre gritos, ais, dores… Oh se fosse luar!… Destas enfermarias corre também um sonho parecido com luar… Será uma fonte?… As fontes! nem te lembres das fontes!… Aqui parece que as minhas fibras mergulham num mar revolvido, que eu ignoro, mas que é feito de gritos.

Baixo a pedra começa também a lembrar-se e àquela hora perdida da noite toda a alma inconsciente do Hospital estremece. Quer recordar, palpita e logo esquece… Os sonhos dos doentes, dos pobres, dos tristes, materializam-se e são como nuvens: são de fogo, são de luar. Sombras aos bandos dissolvem-se, para outra vez se criarem.

– Acho que sempre é luar… E quando havia sol? Torrentes corriam pelo meu tronco, inundavam a minha roupa cascos a e em volta numa poeira azul andava um turbilhão de bichos. Outras árvores flutuavam na mesma poalha e as suas folhas ou eram de sol ou todas de prata. Longe – e que encanto aquela companhia sempre presente e amiga! – o fio do rio chalrava. Folhas caíam e iam devagarinho viajar sobre a água verde. Para onde?… Debaixo de mim, até ao mais fundo das minhas raízes quantas vidas protegi e defendi!… As minhas raízes tocavam na vida!… Às vezes caia um pé de água, mas depois vinham sempre teias de sol, fios de sol, para me enredar – e o sol traz consigo um cheiro a terra e renovo que consola, o hálito dos montes e dos pinheiros meus amigos.

Nas temporadas fúnebres em que a água cai a golfões, a gente concentra-se e fica meio adormecida. Os montes envolvem-se em nuvens, os bichos na terra tremem de frio sob as raízes e as folhas secas estalam e gemem com saudades ao deixarem-nos. Se por instantes se descerra a névoa, os montes são mendigos, com um grande manto remendado. Ao fim da tarde levanta-se dos campos um lindo luar azulado que sobe e se dispersa. É a névoa. Baba de oiro luz na água e os choupos são sombras. Ao longe havia um biombo verde de pinheiros, depois montes, e depois poentes doirados… Porque é que me ponho a pensar e a cismar? Há tanto tempo que dormia! As minhas fibras esta noite estremecem. Há-de ser do luar… Oh se ainda houvesse luar!

As mulheres calaram-se. Não há ruído. Elas próprias sonham. Em torno da mesa, na cozinha saqueada, bebem sem palavra o vinho quente. Algumas pensam decerto num lar e bebem as lágrimas que caem no vinho e o gelam.

– A esta hora a minha mãezinha há de por força pensar em mim… – começa uma.

– E tu porque não foste consoar com ela?

– Punham-me fora! queriam-me lá!… Meu pai, meus irmãos…

– Em minha casa faz-se uma consoada muito grande. Assam-se pinhas no lar, e minhas irmãs pequeninas… oh minhas irmãs pequeninas!…

E sufocada desata de repente a chorar. As outras não se riem como de costume. Só uma, sentindo que iam todas chorar, canta:

Se vires a mulher perdida…

– Raparigas, é o fado… De que serve agora chorar? Ninguém foge ao seu fado.

– À noite a minha mãe aquecia vinho e dava-mo na cama. Sempre a gente é criada para uma vida! Quem adivinha?

– Cala-te!

– Eu era o miminho de todos, eu…

– Só eu nunca tive mãe, de mim ninguém se importa! Acabou-se! Cala-te! cala-te!…

Na escuridão as cinzas que restam num lar fazem tristeza e saudade. Brilham, esmorecem, vão-se apagar: são vidas que se extinguem, a alma da treva que em redor sufoca. Assim o Prédio ao abandono, sob a enxurrada, parecia cismar, como um rescaldo coberto de cinzas. Parara trágico defronte do Hospital, e cansado, tal como um pobre ao fim da vida, contempla o seu destino.

Natal dos pobres! Natal amargo dos que não têm pão e se juntam friorentos em torno dum lume que não aquece; natal dos seres que a desgraça usou… O vinho enregela, o pão é duro, mas resta ainda este lume, que jamais se apaga: – Amanhã! amanhã!…

Que poesia tão triste não vai caindo como um choro sobre aquelas almas de misérrimos, de gebos, de prostitutas, de desgraçados!

Numa trapeira o gato-pingado quer dizer: – Amo-te! – mas foi sempre tão nu que não sabe exprimir o que sente.

Na alma daquela criatura humilde, despida e escarnecida, que tinha medo de sonhar e até de chorar, fizera-se um clarão. Tal o espanto enternecido duma pedra a que uma raiz se apega e que a olha deitar flor na primeira primavera. – Fui eu, apesar da minha secura, pensa o calhau, que a trouxe no ventre.

Sem falar, bebem juntos, ele e a pobre, o mesmo vinho. Ele diz:

– Ambos somos desgraçados e sozinhos.

O vinho que havia aquecido dá-lho com um pedaço de pão. Ela olha-o, tendo sempre crescido por acaso e piedade, rota e triste. Havia pois alguém que a amasse?…

– Bebe.

– É tão bom a gente estar junta.

– Não se tem frio.

– Esta noite, sabes?… Lembro-me de minha mãe… Porque seria que ela me enjeitou?

Fora choram. Ela ergue-se e vê no corredor uma rapariguinha que a mãe pôs fora da porta e que chora e pensa.

– E se eu me deitasse a afogar?

Dá-lhe do seu pão, reparte do seu vinho e, mísera, rota, ressequida, diz, pondo-lhe a mão na cabeça:

– Deus te crie para boa sorte…

Na terra só os pobres sabem ser desgraçados.

Meia-noite! meia-noite!… Para que tudo se crie, para que o pó se transforme em vida, que é necessário? Torrentes de chuva, oceanos de água. Eis a vida… Para que do que é matéria algo de radioso irrompa, que é preciso? Um atlântico de lágrimas.

Da matéria tem nascido à custa de gritos, de fibras torcidas, o imorredoiro espírito. Através das idades ele se criou, através da dor veio surgindo. O mundo espiritual é já hoje mais vasto que o mundo material. A dor é a primavera da vida. Para se entrar na vida ou para se entrar na morte há sempre gritos. A dor ara o céu cheio de estrelas e os seres humildes.

Que se cria de tudo isto? Que é que se alimenta no infinito? Destes pobres espezinhados, revolvidos, nascem as coisas eternas – húmus, amálgama, protoplasma, espírito lácteo, com que se constroem os mundos. Na vala comum os seus corpos, cansados de sofrer, são a vida da terra: as árvores, o pão, as formas, a seiva esplendente. No infinito é da sua dor que se sustenta Deus.

Fonte:
Projeto Gutenberg. Os pobres de Raul Brandão (Em linha): Acedido em 26.12.2023. Disponível em https://www.gutenberg.org/cache/epub/20841/pg20841-images.html

domingo, 24 de dezembro de 2023

5 poemas de Natal na voz de poetas portugueses

Ilustração de Clint Cearley (via Pinzellades al món)

Apresentamos alguns poemas de Natal, escritos por poetas portugueses, para que entre, de forma poética,  no espírito natalício. 

Saboreie esta quadra festiva enquanto lê Manuel Alegre, Miguel Torga e Pedro Tamen.


Natal

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Era gente a correr pela música acima.

Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.

Guitarras guitarras. Ou talvez mar.

 E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.

No teu ritmo nos teus ritos.

No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).

Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.

E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.

No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).

Todo o tempo num só tempo: andamento

de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.

Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva

acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva

na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.

Como se fosse na palavra a rosa brava

acontecia. E era Dezembro que floria.

Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.

E era na lava a rosa e a palavra.

Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre em Poemas de Natal

(Alegre descreve não apenas a noite de Natal em si mas também todo um ambiente natalício, propício à poesia e ao encanto. O poeta escreve sobre encontrar o Natal em cada canto e em cada pormenor da vida mundana.)


Não Digo do Natal

Não digo do Natal – digo da nata

do tempo que se coalha com o frio

e nos fica branquíssima e exacta

nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade

esses tempos relíquidos e pardos

e faz assim que o coração se agrade

de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então

é que descobre dias de brancura

esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura

moídas numa só, e feitas pão

com que a vida resiste, e anda, e dura.

Pedro Tamen, em Antologia Poética

(Este poema de Pedro Tamen fala-nos da época natalícia de uma forma peculiar, mas não menos interessante. Tal como nos indica o título, o autor não pretende falar do Natal em si, mas sim de outros pormenores da época que se enaltecem com a chegada da época e do mês de Dezembro.)


Último Natal (1990)

Menino Jesus, que nasces

Quando eu morro,

E trazes a paz

Que não levo,

O poema que te devo

Desde que te aninhei

No entendimento,

E nunca te paguei

A contento

Da devoção,

Mal entoado,

Aqui te fica mais uma vez

Aos pés,

Como um tição

Apagado,

Sem calor que os aqueça.

Com ele me desobrigo e desengano:

És divino, e eu sou humano,

Não há poesia em mim que te mereça.

Miguel Torga, em Diários

(Este poema é uma ode ao menino Jesus, uma homenagem feita pelo poeta que se descreve como apenas humano, já que Jesus Cristo é divino. O poeta remata esta ideia com o verso “Não há poesia em mim que te mereça”.)


Natal (Miguel Torga)

Foi tudo tão pontual

Que fiquei maravilhado.

Caiu neve no telhado

E juntou-se o mesmo gado

No curral.


Nem as palhas da pobreza

Faltaram na manjedoira!

Palhas babadas da toira

Que ruminava a grandeza

Do milagre pressentido.

Os bichos e a natureza

No palco já conhecido.


Mas, afinal, o cenário

Não bastou.

Fiado no calendário,

O homem nem perguntou

Se Deus era necessário…

E Deus não representou.


Rosas de Inverno (Camilo Pessanha)

Corolas, que floristes

Ao sol do inverno, avaro,

Tão glácido e tão claro

Por estas manhãs tristes.


Gloriosa floração,

Surdida, por engano,

No agonizar do ano,

Tão fora da estação!


Sorrindo-vos amigas,

Nos ásperos caminhos,

Aos olhos dos velhinhos,

Às almas das mendigas!


Desse Natal de inválidos

Transmito-vos a bênção,

Com que vos recompensam

Os seus sorrisos pálidos.


Fonte:

Para haver Natal

Pintura "Adoração dos Pastores", de Bartolomé Murillo (Museu do Prado, Madrid) | Foto: Reprodução

Para haver Natal este Natal

Para haver Natal este natal
talvez seja preciso reaprendermos
coisas tão simples!
Que as mãos preocupadas
com embrulhos
esquecem outros gestos de amor.
Que os votos rotineiros que trocamos
calam conversas que nos fariam melhor.
Que os símbolos apenas se amontoam
e soltam uma música triste
quando já não dizem
aquela verdade profunda.
Para haver Natal este natal
talvez seja preciso recordar
que as vidas começam e recomeçam
e tudo isso é nascimento (logo, Natal!).
Que as esperanças ganham sentido
quando se tornam caminhos e passos.
Que para lá das janelas cerradas
há estrelas que luzem
e há a imensidão do céu.
Talvez nos bastem coisas afinal
tão simples:
o alento dos reencontros
autênticos,
a oração como confiança
soletrada,
a certeza de que Jesus nasce
em cada ano,
para que o nosso natal alguma vez, esta vez,
seja Natal.

P. José Tolentino Mendonça

Fonte:
Associação Portuguesa de Famílias Numerosas. Acedido em 23.12.2023 em https://www.apfn.com.pt/Boletim/8/HaverNatal.htm

sábado, 23 de dezembro de 2023

O presépio de D. João da Câmara | Conto de Natal


O presépio



Havia  quase  um  ano  que  estava  na  loja,  mercearia  num  bairro  escuro,  em que mal entrava de esguelha, como espreitando a medo, um raio de sol, entre as casarias muito altas da rua tortuosa.

Com  doze  anos,  que  saudades  tinha  da  aldeia,  da  família,  dos  antigos companheiros  de  escola,  dos  cães  amigos  que  ladravam  de noite  a  vigiar  a casa!

Tudo lá tão longe! Ah! Se ele soubesse!...

Pois nem uma lágrima lhe viera anuviar o último adeus, quando a diligência dera volta na estrada e ele vira sumirem-se os choupos da ribeira e o lenço que mão saudosa sacudia no alto do cabeço.

É  que  o  deslumbrava  a  ideia  de  Lisboa,  de  que  tantas  maravilhas  grandes lhe  contavam.  Ainda  agora  partia,  e  já  se  via  de  volta  na  aldeia,  de  relógio  e cadeia  de ouro,a  falar  de  alto,  a  puxar  o  bigode,  a  dar  enchente,  como  o Januário, que lhe arranjara o lugar.

Com  o  seu  examezinho  de  instrução  primária,  marçano  de  uma  tenda... Não, que os pais não o queriam para cavador.

Tinham  sido  consultados  o  mestre-escola,  o  prior,  o  senhor  Freitas, lavrador  muito  importante  que  arrastava  tudonas  eleições,  o  Custódio, velhote de muito bom conselho, e todos se tinham mostrado de acordo: não havia  como  Lisboa  para  fazer  um  homem.  Era  ver  o  Januário  que  tinha casado com a viúva do patrão. A loja era de um cunhado dele, bom homem, áspero mas bom homem. Os olhos baixos do Manuelzito, fitos no chão, viam no  tijolo  resplandecer  auréolas,  que  giravam  como  o  fogo  de  vistas  pelas festas.

Ah estava, havia quase um ano; e no desvão da escada, onde às dez horas o mandavam  deitar,  a  morrer  de  calor  no  Verão,  no  Inverno  a  morrer de  frio, punha-se a rever os campos e a casa deixados sem as lágrimas, que lhe corriam agora em grossos fios pelas faces.

Os primeiros dias tinham passado muito lentos.

A conselho do Januário, um biscoito ou outro da mão papuda e oleosa do merceeiro tinham-no ajudado na tarefa. Assim é que ele havia de ser homem, um dia. Mas o patrão mostrava maior pressa.

Pai,  mãe  e  mestre-escola  nunca  lhe tinham batido.  Atreveu-se  uma  vez  a declará-lo.  Foi  pior.  Chegou  o  Verão.  As  festas  de  São  João  e  São  Pedro aumentaram-lhe  a  tristeza.  Reviu  nesses  dias  mais  intensamente  a  alegria  da aldeia, os bailes à noite em volta da fogueira, a ida à fonte pela manhã, o sino a tocar  à  missa,  e  ele  a  pensar  que,  quando  fosse  crescido,  havia  de  ter  uma namorada  por  quem  queimasse  uma alcachofra,  a  quem  cantasse  umas quadras falando de estrelas e de flores.

A bulha nas ruas, nessas noites, não o deixara dormir. Cada bomba era uma pancada  no  coração.  Um  sol-e-dó  que  passou  tocando  arrancou-lhe  lágrimas de imensa saudade.

Pelos Santos, com a melancolia do tempo, ainda foi pior.

Depois veio o Inverno, começaram os dias de chuva.

O  mau  tempo  irritava  o  patrão,  porque  lhe  afugentava  fregueses.  Na  loja, com  recantos  muito  negros,  acendiam-se  muito  cedo  os  candeeiros,  e  o Manuelzito  tinha  pena da  sombra  em  que  se  acolhia  com  maior  amor. Pasmava os olhos, fugia com o pensamento para muito longe.

—Acorda, ralaço! —gritava-lhe o patrão.

Estava a chegar o Natal.

Que lindo era o Natal lá na aldeia!

Andavam  na  rua  a  abrir  um  cano;  quase  ninguém  ali passava;  os  passeios eram cheios de lama. O patrão andava furioso.

Então o pequeno teve uma ideia.

* * *

Lembrou-se  de  fazer  muito  misteriosamente  um  presépio.  O  segredo  em que havia de trabalhar mais o animava na tarefa.

Todos os dias, muito a medo, enquanto o  patrão almoçava ou saía da loja algum instante, vinha à porta, se não havia freguês a servir, espreitava, corria, apanhava um nadinha de barro nas escavações do cano. Escondia-o, e debaixo do balcão, quase às apalpadelas, ia fazendo as figurinhas.

Assim  modelou  o  menino  Jesus,  que  deitou  num  berço  de  caixa  de fósforos, Nossa Senhora de mãos postas, São José de grandes barbas, os três Reis Magos  a cavalo, e  os pastores, um a tocar gaita de  foles, outro  com um cordeirinho  às  costas,  e  uma  mulher  com  uma  bilha.  Não  se  pareceriam  lá muito; mas ele deu provas de que sabia puxar pela imaginação.

Sempre lhe faltava alguma coisa. Havia problemas difíceis de resolver.

Um  dia,  engraxando  as  botas  do  patrão,  lembrou-se  de  engraxar  um  dos reis, e pôs-lhe depois umas bolinhas brancas, de papel a fingir os olhos.

Aos  anjos  fez  asas  com  as  penas  de  uma  galinha  que  depenou  para  um jantar  de  festa  que  não  comeu.  Moeu  vidro  para  fingir  as  águas  do  rio,  e  no papel de embrulho recortou um moinho que só havia de armar à última hora.

Levou nisso parte de Novembro e Dezembro todo, até ao Natal.

Escondia os materiais debaixo da enxerga e, de vez em quando, revia-se na obra.

O que mais o encantava era o menino Jesus, com a cabeça do tamanho de um grão de milho, com buraquinhosa fingirem olhos, ouvidos, nariz e boca. Tinha  mãos  com  cinco  dedos  riscados  a  canivete  e  dois  pezinhos  que  ele achava um encanto.

Com tiras de papel azul havia de fazer o céu e, como o não tinha dourado onde  recortasse  a  estrela,  fez  em  papel  branco  uma meia  Lua;  vinha  quase  a dar na mesma.

Aquele mês passou correndo.

Era a véspera do Natal. As dez e meia, o patrão mandou-o deitar e saiu.

Que alegria estar só!

Não lhe deixavam luz; mas que importava? Às escuras armaria o presépio. E logo começou. Enrolou o moinho, pôs-lhe as velas; esticou o papel azul que fingia  o  céu  e  pregou  nele  com  um  alfinete  a  meia  Lua;  espalhou  o  vidro moído, num S em volta  das  palhas; dispôs as figurinhas, suspendeu os anjos. Depois fez uma carreira de fósforos de cera, que todos se tinham de acender ao mesmo tempo, num deslumbramento, quando desse meia noite.

Deram onze e três quartos.

Ajoelhou.

Batia-lhe  o  coração,  que  lhe  parecia  que  deviam  de  ser  milagrosas  as figurinhas, que delas lhe viria algum bem, consolação da sua vida triste.

Que  seria  quando  ele  iluminasse  o  desvão  da  escada  e  os  santinhos  se pusessem  todos  a  luzir  quase  tanto  como  os  verdadeiros?  Rezava-lhes... Rezava-lhes...  Àquela  hora,  lá  na  aldeia,  tocavam  os  sinos  alegres  e  iam ranchos contentes a caminho da igreja. Lá dentro reluzia o trono, e o sacristão muito atarefado ia, vinha...

Meia noite!

Acendeu os fósforos e ficou embasbacado!

Nunca  assim  vira  coisa  tão  perfeita.  Os  anjos  voavam  deveras,  os  cavalos dos  reis  galopavam, o rio corria, as velas  giravam no  moinho  e os  pontinhos do Menino Jesus sorriam-lhe no rosto a São José e a Nossa Senhora!

Pôs-se a cantar, como lá na aldeia:

Andava nessas campinas,

Esta noite, um querubim.

Tão enlevado cantava, que nem ouviu o patrão abrir a porta, entrar na loja, chegar ao desvão.

Acordou-o do êxtase um pontapé.

—Isso... Agora larga-me fogo à escada!... Varre-me já esse lixo!

E ele, a chorar, levantou-se, foi buscar a vassoura.

O bruto continuava aos pontapés.

—Vá?... Vá!

Mas  quando  se  deitou,  encontrou  na  enxerga  uma  figurinha.  Apalpou-a, conheceu-a  logo:  era  a  do  Menino  Jesus.  Beijou-a  muito.  Pior  vida  levara do que ele...

Sentiu de  repente  um dó  muito grande do  patrão, que  não  vira nada, nem que era tão bonito aquele Menino, com um olhar tão meigo nos seus olhinhos picados.


Fonte:
Contos de Natal portugueses : colectânea de histórias, textos, lendas e poemas. (Em linha). Acedido em 23.12.2023. Disponível em https://www.berci.pt/contos-de-natal-portugueses.pdf

Natal | Origens da celebração


Catacumbas de Priscila, Roma: Natividade,  início do séc. III (afresco com Maria, o Menino Jesus e um profeta, é considerada a mais antiga representação da natividade no ocidente)


O Natal é, na sua essência, uma festa religiosa cristã. Todos os anos, em dezembro, comemora-se não apenas o aniversário do nascimento de Jesus, mas a tradição recorda um mistério nesta festividade, a Encarnação do próprio Deus.

Importa assim entender o significado da palavra que caracteriza o mês de dezembro. "Natal" deriva do latim natalis e significa nascimento que, no contexto em apreço, refere-se ao nascimento de Jesus. Na língua inglesa, o seu equivalente é Christmas que tem origem em Christes moesse (Christ's mass) que significa missa de Cristo. Não é possível separar o sentido do Natal da religião, ou seja, para entender-se o Natal temos, necessariamente, de entender o Cristianismo, com risco de, se não o fizermos, o Natal, ficar apenas no nível da troca de presentes, ou seja, ser uma época puramente de cariz comercial e consumista, que se repete a cada ano.

As origens da celebração 

Os três pilares da cultura ocidental são a filosofia grega, o direito romano e a tradição cristã. Mesmo aqueles que se assumem como "não-crentes", vivem em uma sociedade sustentada por estes três pilares, que sustentam de uma forma geral, o mundo ocidental.

Em 25 de dezembro de 336, em Roma, ocorreu aquela que é reconhecida como a primeira celebração do Natal. Os cristãos puderam exercer abertamente os seus cultos pois a prática do Cristianismo tinha sido autorizada no Império Romano (édito de Milão*, em 313).

Passado algum tempo, o Papa  Júlio I (pontificado de 337 a 352) formalizou o dia 25 de dezembro como a data da celebração do Natal na Igreja Católica. A Igreja Ortodoxa, por sua vez, levou mais tempo para aceitar a data, que acabou por ser, de uma forma faseada, adotada por cada igreja oriental: Constantinopla e Capadócia, em 380, Antioquia, em 386, Alexandria, em 432, e Jerusalém, em 439.

Com a oficialização do Cristianismo pelo Édito de Tessalónica, de Teodósio, em 380, o Natal tornou-se comemoração do Império e o Imperador Justiniano fez dele um feriado nacional em 529. O Natal da maioria dos ortodoxos, no entanto, é comemorado no dia 7 de janeiro.**

Muitos costumes populares associados ao Natal desenvolveram-se de forma independente da comemoração do nascimento de Jesus, com certos elementos de origens em festivais pré-cristãos que eram celebradas em torno do solstício de inverno pelas populações pagãs que foram mais tarde convertidas ao cristianismo. Estes elementos, incluindo o madeiro, o festival Yule (primeira festa sazonal comemorada pelas tribos neolíticas do norte da Europa, e é até hoje considerado o início da roda do ano por muitas tradições Pagãs), e a troca presentes, da Saturnália (festival da Antiga Roma em honra ao deus Saturno, que ocorria em 17 de dezembro no Calendário juliano e mais tarde estendeu-se com festividades até 25 de dezembro. O feriado era celebrado com um sacrifício no Templo de Saturno, no Fórum Romano, com um banquete público, seguido de troca de presentes em privado, festa contínua e uma atmosfera de carnaval que derrubava as normas sociais romanas), tornaram-se sincretizados ao Natal ao longo dos séculos. 

A atmosfera prevalecente do Natal também tem evoluído continuamente desde o início do feriado, o que foi desde um estado carnavalesco na Idade Média, a um feriado orientado para a família e centrado nas crianças, introduzido na Reforma do século XIX. Além disso, a celebração do Natal foi proibida em mais de uma ocasião, dentro da cristandade protestante, devido a preocupações de que a data é muito pagã ou antibíblica.

* - O Édito de Milão (em latim Edictum mediolanense), promulgado em 13 de junho de 313, foi um documento no qual se determinou que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religiosos, acabando oficialmente com toda a perseguição oficialmente, especialmente aos cristãos.

** - A Igreja Ortodoxa segue nas comemorações o calendário juliano  e não o gregoriano, o que explica que muitos ortodoxos festejem o Natal a 7 de janeiro e não a 25 de dezembro.

Fonte:
Sousa, Carlos; Natal em tempo de guerra.  Jornal do Exército, n.º 725-Dez. 2022, pp.43-44
Imagem retirada de Viagem na Itália, Natal na arte italiana : 40 obras sobre a Natividade e a Adoração dos Magos. Acedido em https://viagemitalia.com/40-obras-arte-natividade-reis-magos/

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Utilização da BE/CRE em acesso livre no 1.ºPeríodo – ano letivo 2023/2024

Divulgamos, de seguida, os dados estatísticos relativos à frequência, em regime livre, da Biblioteca Escolar – Centro de Recursos Educativos de 14 de setembro até 21 de dezembro de 2023.

Salienta-se os seguintes dados:

¬ Nº de dias do funcionamento da BE/CRE: 51

¬ Nº de utilizadores registados: 500

¬ Nº de alunos envolvidos: 193


¬ Os 3 alunos que frequentaram mais assiduamente a biblioteca escolar:

• 1º - Mário de Jesus – Turma 10.º 14 – com 36 inscrições;

• 2º - Kamaljit Kaur – Turma 11.º 08 – com 18 inscrições;

• 2º - Nelson Pina – Turma 12.º 13 – com 17 inscrições;


¬ Turma + frequentadora:

• 1º - Turma 10.º 14 - com 48 inscrições;

• 2º - Turma 11.º 08 – com 40 inscrições;

• 3º - Turma 10.º 08 – com 29 inscrições.


¬ Horas com maior número de utilizadores:

• 1º - 13:30H – 14:30H – com 99 inscrições;

• 2º - 11:30H – 12:30H – com 81 inscrições;

• 3º - 12:30H – 13:30H – com 76 inscrições.


¬ Dias da semana com maior afluência:

• 1º - 3.ª Feira – com 154 inscrições;

• 2º - 2.ª Feira – com 120 inscrições;

• 5º - 4.ª Feira – com 107 inscrições.


¬ Dia com maior frequência:

• 18-12-2023 – com 26 inscrições;


¬ Atividades que envolveram mais alunos:

• 1º - Consulta de documentação/ Leitura/ Estudo – 318 inscrições;

• 2º - Consulta multimédia: trabalhos escolares – 128 inscrições;

• 3º - Leitura informal – 35 inscrições.



Circulação do fundo documental no 1.º Período – ano letivo 2023/2024

Divulgamos os dados estatísticos referentes aos empréstimos realizados de 14 de setembro a 21 de dezembro de 2023.


Registaram-se os seguintes empréstimos à Comunidade Escolar:

Alunos – 89 requisições;

Professores – 58 requisições;

Destacam-se as turmas que registaram:

ϖ Maior número de requisições: 

• 1.º - 11.º 05 - com 12 requisições;

• 2.º - 10.º 11 - com 9 requisições;

• 3.º - 11.º B – com 8 requisições.

ϖ Maior número de requisições domiciliárias: 

• 1.º - 11.º B – com 8 requisições;

• 2.º - 10.º 7 – com 7 requisições;

• 3.º - 10.º 09 10.º B – com 6 requisições.

ϖ A aluna que apresentou maior número de requisições domiciliárias foi:

• Erlander Nobre – Turma 10º 13 – com 5 requisições. 

ϖ Total de empréstimos domiciliários a alunos: 70

ϖ Nº de alunos que levaram documentos para casa: 43