No Estado Novo, as mulheres não podiam sair do país sem autorização do marido. Não podiam ser magistradas, nem diplomatas, nem militar ou polícia. Nem tão pouco enfermeiras se fossem casadas. Para trabalhar no comércio, abrir conta bancária ou tomar contracetivos, a mulher era obrigada a pedir autorização ao marido.
Se a ditadura era limitativa para todos, para as mulheres, em particular, reduzi-as à condição de mães e donas de casa: a mulher existia para ser a mãe extremosa, a esposa dedicada, uma verdadeira fada do lar. Desde pequenina que era treinada para ser assim, submissa ao poder patriarcal do pai, do irmão e, mais tarde, do marido. O único futuro que podia ambicionar era o de fazer um bom casamento que garantisse o sustento da família, que, custasse o que custasse, tinha de se manter unida, estável e forte; uma metáfora do próprio regime. Oliveira Salazar não permitia que a ordem social fosse questionada, todos os assomos de feminismo iam sendo silenciados. Até ao dia que as mentalidades começaram a evoluir. A industrialização levou a mulher para fora de casa mas, a verdade, é que um contrato de trabalho valia menos do que um contrato nupcial e ganhava quase metade do salário pago aos homens.
A Revolução de 25 de abril de 74 trouxe promessas de igualdade de género em Portugal. As mulheres passaram a ser livres para fazer as suas escolhas e desafiaram as regras. Passaram a estar em maioria na universidade, tornaram-se governantes, juízas, a contar com direitos sexuais e reprodutivos que lhes deram o poder de decidir as suas vidas.
Contudo, a paridade ainda é uma realidade distante. As mulheres continuam a ganhar menos do que os homens pelo mesmo trabalho, estão menos representadas no Parlamento e na administração de grandes empresas e também em profissões ligadas à ciência e à tecnologia. Trabalham mais horas, principalmente nas tarefas domésticas e de prestação de cuidados à família.
Através do testemunho de mulheres (e também de alguns homens) que lutaram pela promoção da igualdade de género, o documentário, produzido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, acompanha as maiores conquistas feitas no feminino ao longo das últimas cinco décadas, enquanto apresenta os desafios e as maiores urgências para alcançar a desejada igualdade. Desde a conquista do voto feminino por Carolina Beatriz Ângelo até os esforços atuais para combater a segregação de género e a disparidade salarial, e fomentar a literacia digital e a presença das mulheres no mundo do trabalho.
Das licenças de parentalidade ao diferencial remuneratório, das quotas de género à violência doméstica, os temas que mais importam ao empoderamento das mulheres são abordados por artistas, ativistas, empresárias e ex-governantes, figuras destacadas nas conquistas em prol de um maior equilíbrio de género.
Sem comentários:
Enviar um comentário