As senhas para derrubar a ditadura que perdurou durante 48 anos em Portugal foram dadas por duas canções "E depois do adeus", vencedora do Festival da Canção de 1974 e representante do País no Eurofestival da Canção e "Grândola, Vila Morena", o que evidenciou a estreita ligação em Portugal entre a música e a luta política.
As raízes desta relação datam do século XIX, com destaque para A Portuguesa, que começou por ser um cântico de revolta contra a capitulação da Coroa portuguesa perante as exigências coloniais britânicas tornou-se no hino da República. O chamado "fado operário" era, na mesma época, um género frequentemente interventivo.
Porém, pode-se dizer que o movimento da «canção de protesto» acaba por nascer a partir da evolução de um género específico de fado, o de Coimbra, com os valiosos contributos de uma geração de poetas e músicos revoltados com o ínicio da guerra colonial, com a opressão, a pobreza e isolamento a que era votado o País. José Afonso, Adriano Correia de Oliveira (são os dois grandes impulsionadores do movimento que, a partir da recuperação do fado tradicional coimbrão, agitaram as pautas e criaram sérios embaraços ao decrépito Estado Novo) e o guitarrista Carlos Paredes que com o seu virtuosismo musicou poemas interpretados por grandes vozes.
Simultaneamente jovens portugueses exilados no estrangeiro (Paris)como Luís Cília, José Mário Branco e Sérgio Godinho sentem necessidade de usar a música como arma contra a ditadura.
Com a queda do regime de Salazar e Marcelo Caetano, do fim da censura e do lápis azul, a rádio e televisão portuguesa abriram-se às novas expressões musicais e divulgaram exaustivamente muitos dos temas até então proibidos. A música passou então a ser "um cartão de visita" da Revolução e um manifesto de apoio ao POVO-MFA.
Desses tempos ficaram algumas dezenas de canções algumas inevitavelmente datadas, mas muitas outras bem capazes de resistir à poeira do tempo.
Na curadoria que a seguir se apresenta, longe de estar esgotada, juntam-se algumas das canções emblemáticas do antes, do durante e do depois de Abril, assim como uma nova geração de músicos que denunciam o racismo, a discriminação de género, a guerra, o desemprego, entre tantos outros temas que caracterizam os tempos difíceis que atravessamos.
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