sábado, 23 de dezembro de 2023

Natal | Origens da celebração


Catacumbas de Priscila, Roma: Natividade,  início do séc. III (afresco com Maria, o Menino Jesus e um profeta, é considerada a mais antiga representação da natividade no ocidente)


O Natal é, na sua essência, uma festa religiosa cristã. Todos os anos, em dezembro, comemora-se não apenas o aniversário do nascimento de Jesus, mas a tradição recorda um mistério nesta festividade, a Encarnação do próprio Deus.

Importa assim entender o significado da palavra que caracteriza o mês de dezembro. "Natal" deriva do latim natalis e significa nascimento que, no contexto em apreço, refere-se ao nascimento de Jesus. Na língua inglesa, o seu equivalente é Christmas que tem origem em Christes moesse (Christ's mass) que significa missa de Cristo. Não é possível separar o sentido do Natal da religião, ou seja, para entender-se o Natal temos, necessariamente, de entender o Cristianismo, com risco de, se não o fizermos, o Natal, ficar apenas no nível da troca de presentes, ou seja, ser uma época puramente de cariz comercial e consumista, que se repete a cada ano.

As origens da celebração 

Os três pilares da cultura ocidental são a filosofia grega, o direito romano e a tradição cristã. Mesmo aqueles que se assumem como "não-crentes", vivem em uma sociedade sustentada por estes três pilares, que sustentam de uma forma geral, o mundo ocidental.

Em 25 de dezembro de 336, em Roma, ocorreu aquela que é reconhecida como a primeira celebração do Natal. Os cristãos puderam exercer abertamente os seus cultos pois a prática do Cristianismo tinha sido autorizada no Império Romano (édito de Milão*, em 313).

Passado algum tempo, o Papa  Júlio I (pontificado de 337 a 352) formalizou o dia 25 de dezembro como a data da celebração do Natal na Igreja Católica. A Igreja Ortodoxa, por sua vez, levou mais tempo para aceitar a data, que acabou por ser, de uma forma faseada, adotada por cada igreja oriental: Constantinopla e Capadócia, em 380, Antioquia, em 386, Alexandria, em 432, e Jerusalém, em 439.

Com a oficialização do Cristianismo pelo Édito de Tessalónica, de Teodósio, em 380, o Natal tornou-se comemoração do Império e o Imperador Justiniano fez dele um feriado nacional em 529. O Natal da maioria dos ortodoxos, no entanto, é comemorado no dia 7 de janeiro.**

Muitos costumes populares associados ao Natal desenvolveram-se de forma independente da comemoração do nascimento de Jesus, com certos elementos de origens em festivais pré-cristãos que eram celebradas em torno do solstício de inverno pelas populações pagãs que foram mais tarde convertidas ao cristianismo. Estes elementos, incluindo o madeiro, o festival Yule (primeira festa sazonal comemorada pelas tribos neolíticas do norte da Europa, e é até hoje considerado o início da roda do ano por muitas tradições Pagãs), e a troca presentes, da Saturnália (festival da Antiga Roma em honra ao deus Saturno, que ocorria em 17 de dezembro no Calendário juliano e mais tarde estendeu-se com festividades até 25 de dezembro. O feriado era celebrado com um sacrifício no Templo de Saturno, no Fórum Romano, com um banquete público, seguido de troca de presentes em privado, festa contínua e uma atmosfera de carnaval que derrubava as normas sociais romanas), tornaram-se sincretizados ao Natal ao longo dos séculos. 

A atmosfera prevalecente do Natal também tem evoluído continuamente desde o início do feriado, o que foi desde um estado carnavalesco na Idade Média, a um feriado orientado para a família e centrado nas crianças, introduzido na Reforma do século XIX. Além disso, a celebração do Natal foi proibida em mais de uma ocasião, dentro da cristandade protestante, devido a preocupações de que a data é muito pagã ou antibíblica.

* - O Édito de Milão (em latim Edictum mediolanense), promulgado em 13 de junho de 313, foi um documento no qual se determinou que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religiosos, acabando oficialmente com toda a perseguição oficialmente, especialmente aos cristãos.

** - A Igreja Ortodoxa segue nas comemorações o calendário juliano  e não o gregoriano, o que explica que muitos ortodoxos festejem o Natal a 7 de janeiro e não a 25 de dezembro.

Fonte:
Sousa, Carlos; Natal em tempo de guerra.  Jornal do Exército, n.º 725-Dez. 2022, pp.43-44
Imagem retirada de Viagem na Itália, Natal na arte italiana : 40 obras sobre a Natividade e a Adoração dos Magos. Acedido em https://viagemitalia.com/40-obras-arte-natividade-reis-magos/

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