Vai de férias?
Precisa de livros?
E é desta que vai tentar "atirar-se" às obras literárias mais notáveis?
Entre clássicos portugueses e estrangeiros, jornalistas e colaboradores do Observador sugerem 32 obras fundamentais. São romances e ensaios, são alta literatura e banda desenhada, são publicações com várias décadas e outras mais recentes, mas que já inscreveram um lugar na História.
As edições aqui apresentadas são as mais recentes ou as que os autores das sugestões fizeram questão de apresentar.
Boas leituras.
Camões : uma antologia
Frederico Lourenço
Quetzal
632 páginas
No ano em que se comemora o V Centenário do nascimento de Luís de Camões vale a pena regressar ao grande poeta e fundador da língua portuguesa. A maior ajuda para esse regresso é a mão de Frederico Lourenço a guiar-nos numa leitura atenta pelos pontos altos da obra que queremos celebrar. Com notas muito informativas, extremamente pertinentes e com uma sabedoria deslumbrante, esta antologia assinada por um homem de sólida formação clássica funciona como uma aprendizagem nova do maior vulto da nossa literatura. Alexandra Carita |
|
Absalão,
Absalão!
William Faulkner
Tradução: Maria Jorge de Freitas
D. Quixote
400 páginas
A história dos Estados Unidos da América não se conta sem a narrativa de William Faulkner. São as personagens que cria, de uma mestria no conhecimento do humano e da sua condição, que definem o que de facto pontuou o nascimento de uma nação, não por acaso, a mais poderosa do nosso mundo. A Guerra Civil americana, que moldou e ainda molda a alma desses homens, é o palco onde se desenrola esta ficção, escrita em 1936, e que põe a nu e verdadeiramente une e desune a nossa civilização. Ainda mais sublime neste livro é a sua lucidez e a escrita inigualável.
Alexandra Cabrita |
|
O Egipto
e outros textos
sobre o Médio Oriente
Eça de Queiroz
Relógio D’Água
368 páginas
No dia em que se faça, enfim, uma nova revisão da Constituição, propomos acrescentar à lei fundamental esta recomendação: que todo o indivíduo de cartão do cidadão português leia, ao menos, um Eça por ano. Estica-nos a inteligência, passa-nos a ferro a mania da modernidade, reconcilia-nos com a Portugalidade e, ao mesmo tempo, com o desprezo que tenhamos por ela. Este volume, certamente dos menos conhecidos do autor, é dos que melhor vai com o Verão: um livro de viagens escrito em 1869, quando Eça tinha apenas 23 anos e foi à inauguração do Canal do Suez.
Alexandre Borges |
|
Catch-22
Joseph Heller
Tradução: Eduardo Saló
D. Quixote
544 páginas
O editor decretou o fim da ditadura das novidades. Para este ano, queria uma lista de clássicos. Suspirámos de alívio. Isto não é bem uma recomendação, portanto; é uma confidência. Este ano é que nos vamos atirar às 500 páginas do clássico de Joseph Heller, raramente descrito por menos que hilariante, amargo, o melhor romance americano sobre a II Guerra Mundial, o – nas palavras de Norman Mailer – rock-and-roll dos romances. Vemo-nos em setembro, com um bronzeado de condutor de calhamaços (corpo escaldado e um retângulo branco à volta da cabeça e ali até meio do peito).
Alexandre Borges |
|
Folhas caídas
Almeida Garrett
Book Cover
80 páginas
A construção do ritmo é coisa que aqui encanta. E a obsessão de Garrett mais ainda. Vários dos poemas mostram uma tensão doente, um toca-e-foge, um vício que lhe arde em cada página. Ao lê-lo, dá ideia de que temos perante nós a tensão à flor da pele, e isto porque foi trabalhada, depurada, até restar apenas o desespero, a desolação. Longe dos livros do Romantismo que eram mais proposta política do que literatura (perdoem-me os líricos), aqui temos um romantismo de braço dado com a ironia, que nunca deixa de lado umas facadinhas de amante ressabiado com a vida.
Ana Bárbara Pedrosa |
|
A Leste
do Paraíso
John Steinbeck
Tradução: João Belchior Viegas
Livros do Brasil
744 páginas
Talvez seja o grande livro de Steinbeck, que não escreveu coisa pouca. O romance, numa prosa irrepreensível, límpida e densa no mesmo rasgo, parece que vai a tudo, relatando a vida de várias gerações de duas famílias na Califórnia entre 1860 e 1920. Enquanto a paisagem seca daquela zona vai aparecendo quase como personagem, são os Trask e os Hamilton que engatam o leitor. E, pegando no território da família, esse onde a vida inteira tem lugar, Steinbeck, perdoe-se o clichê, faz um romance universal, pondo em cena tudo o que toca e molda e muda.
Ana Bárbara Pedrosa |
|
O amor
é fodido
Miguel Esteves Cardoso
Bertrand
160 páginas
Podemos assumir que, por vezes, palavrões surgem nas capas dos livros como forma de chamar a atenção. Neste caso, é sobretudo para ir direto ao assunto e não deixar ninguém cair no engano. O livro de Miguel Esteves Cardoso resistiu ao tempo e lê-se menos como uma história ou romance e, sim, como um belíssimo exercício da língua, com as voltas que o autor pode dar ao lirismo. André Almeida Santos |
|
O talentoso
Mr. Ripley
Patricia Highsmith
Tradução: Mário-Henrique Leiria
Relógio D’Água
264 páginas
Se viu a série da Netflix na primavera deste ano, então leia o livro durante o verão. O primeiro – e melhor – de cinco romances em volta de Tom Ripley é o que se reporta à série e é onde se lê Highsmith a edificar os traços de um psicopata que criaria um padrão na literatura, no cinema e na televisão nas décadas seguintes. É aqui que se desenha a ideia contemporânea de que o leitor (ou o espectador) faz parte do jogo, da sedução e está disposto a ser burlado pela personagem. André Almeida Santos |
|
A jangada
de pedra
José Saramago
Porto Editora
352 páginas
Está na hora de ler José Saramago, mas por onde começar? A resposta pode ser A Jangada de Pedra. Na história, a Península Ibérica separa-se do resto da Europa e começa a mover-se no Atlântico com destino incerto. A partir daqui, o que pode acontecer? É o que descobrimos através da jornada de personagens peculiares, das respetivas diferenças sociais, dos valores e dos interesses, tudo moldado pela ironia de Saramago. Andreia Costa |
|
A sombra
do vento
Carlos Ruiz Zafón
Tradução: José Teixeira de Aguilar
Planeta
512 páginas
Estamos em 1945, Barcelona, um pai leva o filho a um local secreto com milhares de obras. Aí, o miúdo escolhe um livro que vai transportá-lo muito para lá do que está escrito nas páginas. A obsessão pelo autor é o motor para uma jornada de intriga, desencontros e uma história de amor trágica que se propaga como um tsunami. No melhor livro de Zafón descobrimos ainda uma Barcelona tão sombria quanto misteriosa e mágica. Andreia Costa |
|
Pedro Páramo
Juan Rulfo
Tradução: Rui Lagartinho
Cavalo de Ferro
172 páginas
Antes de García Márquez, de Vargas Llosa ou de Fuentes, havia Juan Rulfo. O mexicano deixou pouca obra, mas decisiva para toda uma geração. Este seu único romance, árido, trata a violência do México rural sob uma estrutura não linear e fantasmagórica de uma história de um filho que procura o progenitor num vilarejo remoto, descobrindo-o morto depois de falar com espectros. Rulfo sabia uma coisa ou duas sobre o tema — afinal de contas, mataram-lhe o pai quando tinha seis anos. António Moura dos Santos |
|
O cavalo
de sol
Teolinda Gersão
Porto Editora
228 páginas
Mais tórrido do que o verão, só uma história de amor(es) proibido(s). Vencedor do P.E.N. Clube Português de Narrativa em 1989, O Cavalo de Sol retrata um Portugal rural e tacanho dos anos 30, onde as convenções de género inflexíveis eram infernos silenciosos para as mulheres — e para os maridos que não as amavam. É o que se passa entre Jerónimo, homossexual reprimido, e a sua prima Victoria, forçada a casar com ele, numa delicada e melancólica história que consta entre o que de melhor Teolinda Gersão já publicou. António Moura dos Santos |
|
O piolho viajante
António Manuel Policarpo da Silva
Palimpsesto
360 páginas
A tradição pícara tem vários exemplos engraçados na nossa língua. Um dos mais divertidos é este Piolho Viajante, um exemplo já tardio mas ainda assim muito divertido deste tipo de literatura. A premissa deduz-se do título: trata-se das viagens de um piolho pelas várias cabeças que o alojam, com os problemas que causam, para um piolho, uma careca ou uma cabeça mal-lavada. Entre as aventuras do Lazarillo ou do Tom Jones e as histórias sobre objetos animados, como Os Relógios Falantes, O Piolho Viajante é um dos maiores expoentes da nossa literatura cómica. Carlos Maria Bobone |
|
Two renaissance book hunters
Poggius Bracciolini e Nicolaus de Niccolis
Columbia University Press
393 páginas
Imaginemo-nos no ambiente que Yourcenar traçou em A Obra ao Negro. Talvez um pouco antes, entre eruditos que viajam pela Europa à procura de manuscritos perdidos de mestres Antigos, secretários papais envolvidos em problemas políticos, mas sempre com uma consciência desperta para as grandes questões filosóficas. É isso que temos na correspondência entre Poggio e Niccolis, dois sábios renascentistas que discutem tudo, da importância dos banhos romanos às traduções de Platão, numa mistura extraordinária entre o quotidiano e a cultura do fim da Idade Média. Carlos Maria Bobone |
|
As benevolentes
Jonathan Littell
Tradução: Miguel Serras Pereira
D. Quixote
893 páginas
Aviso à navegação: não espere sair ileso destas 893 páginas. As Benevolentes (nome derivado das deusas gregas Erínias, que castigavam os homens pelos seus crimes de sangue) aborda o período da II Guerra Mundial a partir da figura de um ex-oficial nazi, Maximilien Aue. A escrita é tão grotesca quanto requintada e isso incomoda-nos. Ao mesmo tempo que alimentamos a repulsa pela personagem principal, constatamos algo insuportável: o quão parecidos nós, leitores, somos de Maximilien Aue. Jonathan Littell propõe-nos, assim, uma reflexão exigente sobre a banalidade do mal. Filipa Vaz Teixeira |
|
A costa
dos murmúrios
Lídia Jorge
D. Quixote
260 páginas
Publicado em 1988, é um romance ímpar na forma como aborda a Guerra Colonial. O seu valor é tão mais inestimável quanto mais tempo passa sobre esse período histórico. Com uma escrita que toca na pele e dividindo a narrativa em dois momentos distintos, a escritora conseguiu dar uma visão feminina a um tema que até então estava praticamente reservado às vozes masculinas que participaram na Guerra. Abriu novas perspetivas de entendimento sobre o contraste entre os horrores vividos no terreno e a grandeza imperialista propagandeada pelo Estado Novo. Filipa Vaz Teixeira |
|
A montanha mágica
Thomas Mann
Relógio D’Água
864 páginas
Um livro pode ser umas das últimas formas de sobreviver à voragem que a tecnologia introduziu nas nossas vidas, ao fazer da leitura uma forma de desafiar o tempo dos relógios, das máquinas, do ciberespaço. A Montanha Mágica, romance escrito há cem anos, obriga a outra experiência do tempo. Aqui não há acontecimentos, apenas paisagens do mundo interior, sensações das pessoas olhando em redor, reagindo. Hans Castorp deixa a planície e sobe ao topo da montanha para visitar o primo no sanatório de Berghof. Lá em cima vigora o tempo mitológico. Chega como neófito e sairá como veterano. Joana Emídio Marques |
|
A noite
e o riso
Nuno Bragança
D. Quixote
224 páginas
A noite e o riso é a história de um homem que, a tentar ser escritor, inventa uma personagem que é ele próprio e nesse jogo reinventa a literatura portuguesa. Um romance que troca o dia pela noite, a autoridade pelo riso que, recorrendo à farsa, estilhaça o Portugal de instituições decadentes do final dos anos 60 do século XX. Nesse mesmo gesto, estilhaça também uma língua e uma literatura tornada, ela própria, obediente ao poder, manipulada, amputada do fulgor que lhe deram Gil Vicente ou Fernão Mendes Pinto. Joana Emídio Marques |
|
Novas Cartas
Portuguesas
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa
D. Quixote
464 páginas
Abanou e arejou um Portugal bafiento, reivindicando o direito da mulher a ter corpo e pensamento. Destruído pela censura três dias depois de estar em circulação sob o pretexto de ser “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”, o livro das "Três Marias" é revolucionário do discurso à forma e permanece um libelo contra todas as formas de opressão, com críticas à ideia cristalizada e subserviente da mulher, à ditadura, à Guerra Colonial, ao sistema judicial. É uma obra plena de modernidade, mesmo 50 anos depois. Joana Moreira |
|
O ano
do pensamento mágico
Joan Didion
Tradução: Hugo Gonçalves
Cultura Editora
180 páginas
Pioneira do jornalismo narrativo, a escritora e jornalista Joan Didion (1934-2021) já se cimentara como voz literária com as crónicas em que retratava a vida cultural e política norte-americana, mas foi em 2005 que o seu nome se firmou com O Ano do Pensamento Mágico, obra finalista do Prémio Pulitzer. O confronto com a morte do marido e da filha num curto espaço de tempo resultou no derradeiro livro do luto. A escrita é enxuta e precisa, o pensamento límpido, a mágoa real, o início inesquecível: “A vida muda num instante. Num dia normal.” Joana Moreira |
|
O pedaço
que falta
Shel Silverstein
Bertrand Editora
112 páginas
Há palavras cansadas e que nos cansam. “Génio” é uma delas. “Génio esquecido” uma derivação gasta. E “génio desconhecido” uma tentativa falha de requisitar a nossa atenção. Peço-lhe, portanto, alguma benevolência ao ler que o escritor, poeta, cartunista, satirista, músico, compositor e dramaturgo norte-americano Shel Silverstein foi todas estas coisas. Publicada em 1976, esta curtíssima história sobre uma pedra que vai rebolando em busca de uma lasca que a complete ecoa — e ecoará – naquele vazio alojado, consoante os indivíduos, entre a cavidade abdominal e o hipotálamo. No fim, é possível que esse vazio seja até apreciado. Joana Stichini Vilela |
|
Trilogia
Filipe Seems
António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva
ASA
112 páginas
No início da década de 1990, o ilustrador António Jorge Gonçalves e o argumentista Nuno Artur Silva começaram a publicar páginas de banda-desenhada no extinto semanário Se7e. Não suspeitariam os dois jovens que era o início não só de uma trilogia de álbuns de BD — Ana; A História do Tesouro Perdido; A Tribo dos Sonhos Cruzados — mas da criação de um clássico. E ainda de um herói romântico que ficaria na memória de uma geração, o escritor e detetive Filipe Seems, sempre envolto em mistérios irresolúveis, reflexões filosóficas e fantasias com mulheres bonitas. Foi reeditada este ano. Joana Stichini Vilela |
|
Os cus
de Judas
António Lobo Antunes
D. Quixote
200 páginas
Com o tempo, o próprio António Lobo Antunes desmereceu Os cus de Judas – era demasiado verboso, demasiado adjetivado, com imagética carregada. Mas a narrativa que o autor criou servia acima de tudo os seus próprios interesses – era uma forma de assinalar que evoluíra, que já não era aquele escritor. O que em nada diminui o poder de Os Cus de Judas, uma torrente voraz sobre a solidão e o impacto da guerra num homem, contado em registo de fluxo-de-consciência, sob a influência de Faulkner e Céline e, sim, carregado de adjetivos e imagens complexas e frases que nunca acabam. E ainda assim, uma experiência única sobre o desespero humano. João Bonifácio |
|
Pastoral americana
Philip Roth
D. Quixote
425 páginas
Narrado por Nathan Zuckerman, um dos alter-egos preferidos de Roth, centra-se na vida de Seymour Levov, “o Sueco”, símbolo quase aspiracional de uma certa ideia de América: desportista, confiante, caminhando com a leveza de quem precisa de se pôr em causa. Num reencontro de liceu, Zuckerman conhece Jerry Levov, o irmão de Seymour, que lhe conta a tragédia que se abateu sobre este e a partir daí Zuckerman recria a vida do Sueco, numa descida aos infernos, mais simbólica da América do que qualquer imagem de juventude. João Bonifácio |
|
Os Lusíadas
Luís Vaz de Camões
Guerra & Paz
312 páginas
Talvez os disparates constantemente ecoados, da esquerda à direita, a respeito d’Os Lusíadas abrandassem um pouco caso 1% das pessoas que os repetem se dedicassem a ler o livro com atenção. Das grandes epopeias ocidentais, a de Camões talvez seja a de mais hesitante exaltação, regada de adversativas e de questões acerca da bondade do fim último da expansão e violência ultramarina. Não gosta de livros que louvem cegamente os Descobrimentos? Camões também não. João Pedro Vala |
|
Dom Quixote
de la Mancha
Miguel de Cervantes
Tradução: Miguel Serras Pereira
D. Quixote
936 páginas
Esta recomendação é feita para todos os que não tenham crianças ao seu cuidado neste verão. Li a história do engenhoso fidalgo e seu fiel escudeiro há dez anos, numas férias na Croácia, e lembro-me de me sentir a torrar ao sol nos campos aragoneses, sem conseguir largar o raio do livro. Se era para isso, e não me levem a mal, mas mais valia ter ido passar férias a Espinho. Visitar Dubrovnik foi dinheiro deitado à rua. João Pedro Vala |
|
O estrangeiro
Albert Camus
Tradução: António Quadros
Livros do Brasil
88 páginas
A forma como os temas que deambulam por este livro — crime, o absurdo, o sentido de estarmos aqui — são tratados tem influenciado tudo e todos, do mundo em geral à vida deste que vos escreve em particular. É considerado uma das obras-primas da literatura francesa do século XX, inspirou filmes e músicas e continua a ter uma das melhores frases de abertura de um livro: "Hoje a minha mãe morreu. Ou ontem, não sei". Melhor ainda só o facto de falar do sistema judicial como ninguém. Querem leitura mais apropriada para este verão? José Paiva Capucho |
|
O delfim
José Cardoso Pires
Relógio D’Água
208 páginas
José Cardoso Pires, escritor de óculos quadrados de massa, com o peso todo da vida às costas, escrevia ficção (muito, muito realista) como poucos. Publicado em 1968, O Delfim mistura a disfunção de um país com uma família em crise. Ocorrem duas mortes misteriosas, Portugal está emperrado e José Cardoso Pires cruza tudo com traição, incesto, homossexualidade e uma mestria absoluta. José Paiva Capucho |
|
Os Maias
Eça de Queiroz
Penguin Clássicos
720 páginas
Vá, é altura de fazer as pazes. Gerações e gerações foram traumatizadas pela obrigatoriedade de dar este livro nas aulas de Português, associando assim a obra-prima de Eça a uma tarefa tortuosa. Isto impede até hoje milhares de pessoas de usufruírem de um dos melhores escritos da língua portuguesa, uma mistura perfeita de drama e comédia. Publicado em 1888, é uma crítica de costumes que encaixa que nem uma luva (daquelas de ir ao São Carlos) no lugar-comum de "faz tanto sentido hoje como quando foi escrito". Susana Romana |
|
O indispensável
da Mafalda
Quino
Tradução: Marisa José Sacadura e Ricardo Pereira
Iguana
192 páginas
Se o que faz um clássico é o conforto de saber que o podemos ler várias vezes ao longo da vida, sempre com uma perspetiva diferente dada pelo nosso contexto da altura, então o Panteão da personagem mais famosa do argentino Quino é o exemplo perfeito disso. Mafalda completa agora em 2024 uns redondos 60 anos e é sempre tempo de a descobrir ou redescobrir. Com o bónus de que só um livro na bagagem pode logo agradar a vários elementos da família.
Susana Romana |
|
Ensaios
sobre a virtude
e a felicidade
Samuel Johnson
Organização: Pedro Galvão
E-Primatur
504 páginas
Dez anos depois da breve antologia organizada por Francisco José Viegas (Páginas Escolhidas, Quetzal, 160 pp.), temos enfim estes Ensaios, organizados e prefaciados por Pedro Galvão, que nos trazem o essencial do filósofo inglês, numa centena de crónicas publicadas nas revistas The Rambler, Idler e The Adventurer. “São ensaios em que o pensamento filosófico se intersecta, numa feição única, tanto com o virtuosismo literário como com uma análise psicológica autenticamente sagaz”. O livro vale também pela excelente contextualização biográfica que a introdução oferece. Vasco Rosa |
|
Peregrinação
Fernão Mendes Pinto
Assírio & Alvim
876 páginas
Dispensa apresentações este grande clássico português da literatura de viagens, mas lê-lo ou relê-lo é muito mais e melhor do que simplesmente saber que existe. E desfrutar dele enquanto não venha alguém querer expurgá-lo de inconveniências woke (ou soft woke... ). Nos 500 anos de Camões, Mendes Pinto faz contraponto aos seus Lusíadas, para alguns inseparável desta Peregrinação.
Vasco Rosa |
|
Fonte:
Observador, 21-07-2024. Acedido em
https://observador.pt/especiais/32-classicos-para-ler-no-verao/#
Sem comentários:
Enviar um comentário