sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Natal, e não Dezembro

Imagem: Tjeerd Royaards

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
(...)

David Mourão-Ferreira, in Cancioneiro de Natal

Fonte: 
Bolas e letras (Em linha) (Consult.23.12.2021) Disponível em https://bolaseletras.blogs.sapo.pt/622547.html

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